14.7.12

Refraction (1/14)

Título: Refração
Resumo: Sequência de Mirror Image. Oliver convence Callie Donovan a se juntar a ele na formação de sua própria Liga da Justiça, mas quando descobrem que Clark Luthor encontrou uma segunda caixa espelhada, o seguem até a Terra 1 para alertar suas contrapartes.
Autora: fickery
Classificação: NC-17 (nos últimos capítulos)
Personagens/Pares: Ollie/Chloe, Lois/Clark, Tess/Emil, Justice League; Oliver/Callie, Justice League, Lois, Clark Luthor, Lionel Luthor, Tess Luthor
Categoria: AU, drama, angst, romance
Aviso: spoilers até Finale, mas como sempre eu tomo muita liberdade com os acontecimentos da série e a cronologia
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O homem de preto fugia pelo deserto, e o pistoleiro o seguia.
--O Pistoleiro, Stephen King


Considerando que era um jantar de negócios com o ex de sua prima, ela tinha passado até agora, muito tempo decidindo o que vestir, a crescente pilha de roupas descartadas na cama era um testemunho de sua indecisão. Ela tinha que se arrumar pelo menos um pouco, dada a hora e nível do clube de Oliver, e, apesar do fato de estar vivendo sob uma identidade falsa, um último resquício de vaidade não permitia que ela parecesse muito desleixada. Por outro lado, não queria parecer que fez muito esforço ou que passou muito tempo pensando no que vestir.
Aham. Tá bom.
Ela finalmente escolheu um tubinho azul, que tinha uma saia lápis, uma gola quadrada e sem mangas. Era elegante, mas apropriado para um jantar de negócios, valorizava o corpo, mas não era sensual; sua joia de kriptonita já dava conta do contraste de cores. Ela calçou uma sandália azul e transferiu algumas coisas de sua bolsa para uma menor de mão a caminho da porta: cartão de crédito, batom, pó compacto, spray de pimenta, uma calibre 38 especial.
O taxista olhou surpreso quando ela entregou o cartão com o endereço pra ele, mas começou a dirigir sem fazer nenhum comentário. Ele não era do tipo falante, o que ela agradeceu, já que tinha poucos minutos para respirar fundo e mentalmente se preparar para este encontro.
Toda a tarde ela pensou sobre as palavras de Oliver naquela manhã, remoendo-as em sua cabeça. Que grande segredo ele poderia ter, e porque isso a fazia pensar que ele era psicótico? Ele era psicótico? E se fosse, ele era perigoso, ou só um lunático inofensivo?
Ela não grande fã de teorias conspiratórias sobre coisas que não envolvessem os Luthors, mas tinha certamente passado muito tempo online pra conhecer as mais comuns: Pé Grande, controle mental do Governo. Água fluoretada. Área 51. Implante de rastreadores. Talvez ele achasse que tinha premonições, ou que podia ler mentes. Deus, espero que não seja esta última.
Claro que ela já tinha pesquisado sobre ele antes da entrevista, mas mais cedo, depois da entrevista, quando tentou cruzar referências sobre seu nome com alguns temas populares, só encontrou as mesmas histórias envolvendo pedras de meteoro que tinha visto antes.
O táxi parou silenciosamente na frente de uma entrada discreta numa rua tranquila, e ela pagou o motorista enquanto um homem abria a porta pra ela, esperando para acompanhá-la até a entrada do lugar. Quando ela lhe deu seu nome, ele a deixou com o maitre do pequeno clube privado antes que ela pudesse ao menos dizer com quem iria se encontrar. Evidentemente eles já sabiam.
Ela foi conduzida por uma enorme sala de jantar até uma menor, onde havia várias mesas e bancos bem longe umas das outras. Ela entendeu o conceito imediatamente: a sala anterior era onde você se sentava para ver e ser visto, para criar contatos, enquanto esta sala era onde os acordos eram feitos.
Oliver se levantou quando eles se aproximaram, e permaneceu em pé até ela estar sentada.
"Marco estará aqui em um momento para pegar seu pedido, Sr. Queen."
"Obrigado, Edward." O homem fez uma reverência e se retirou. Oliver olhou para Callie com um fraco sorriso.
"Obrigado por ter vindo. Eu não tinha certeza se você viria, pra ser honesto."
"Depois de você me jogar uma isca tão tentadora?" ela respondeu. "Sim, você sabia que eu viria."
O sorriso dele se abriu. "Sob as circunstâncias, eu não sei isso é apropriado, mas... você está linda."
Ela também não tinha certeza se era apropriado, mas secretamente gostou do elogio independente de qualquer coisa. Em seu simples aceno de cabeça em agradecimento, deixou seu cabelo cair, literalmente, em ondas soltas ao redor do rosto e ombros. Poderia ter apenas prendido, supôs, mas com os óculos e vestido simples que usava achou que a faria parecer muito severa pra ele se sentir confortável em se abrir com ela. O objetivo era a entrevista, fazê-lo se abrir com ela.
Claaaro. Era por isso.
O habitual de um jantar de negócios se seguiu com o pedido de bebidas, recebimento dos cardápios, pedindo alguma recomendação a ele, e fazendo o pedido. Ela deixou que ele escolhesse o vinho, embora planejasse beber o mínimo. Duvidava que ele também beberia muito, mas qualquer coisa que o ajudasse a soltar a língua trabalharia a seu favor. Novamente ela teve que suprimir sua crítica voz interior, que parecia determinada a fazer um trocadilho malicioso de duplo sentido sobre a língua de Oliver Queen que ela realmente não podia lidar agora.
Ele correu o ritual do vinho rapidamente sem fazer um grande show como a maior parte dos caras faziam, o que ela apreciou. Claro que ele tinha escolhido um excelente, mas ela se conteve a um único gole antes de retornar à água mineral que tinha pedido.
"Então", ele disse casualmente, brincando com seu talher. "Você conversa bastante com Lois?"
"Entramos em contato regularmente." Ela não especificou como, sendo mais simpática com ele do que ele poderia esperar.
"Eu estou bem. Eu estou bem. De verdade", ele garantiu. "Términos nunca são divertidos, e eu não vou mentir pra você e dizer que superei instantaneamente, mas faz mais de um ano agora. Ela estava certa sobre nós. Somos amigos, não alma gêmeas. Ainda conversamos também."
"Ela me falou", Callie disse, tomando outro gole da água. "Então, é isso que você está procurando? Uma alma gêmea?"
Ele sorriu embora estivesse pensando em outra coisa. "Não sei se chamaria assim, mas acredito que tem alguma coisa a ver com destino, sim."
"E sua crença no destino tem alguma coisa a ver com o que você vai me contar?"
Ele começou a responder, então ficou em silêncio enquanto as saladas eram servidas. Pegando o garfo, ele inclinou a cabeça enquanto o garçom desaparecia. "Mais ou menos."
Servindo-se de um pouco de alface, ele a observou por um momento, fascinado. Ela tinha o mesmo maneirismo da Chloe, enquanto ela espalhava as folhas verdes no prato para garantir a distribuição igualitária antes de comer. "E você?" ele perguntou. "Nenhum interesse pela alma gêmea?"
Ela deu risada. "Na verdade não. Acho que esse interesse nunca existirá." Vendo o olhar surpreso dele, ela disse. "Vamos dizer que não continuo amiga dos meus ex. Não sou muito boa nessa coisa de relacionamento. Se você está certo e destino existe, então tenho certeza que o meu é ficar sozinha." Ela pontuou a declaração comendo um pouco da salada.
Bem. Ele tentou se relembrar que era muito cedo para sentir-se desencorajado. Ninguém disse que ia ser fácil.
Enquanto ela mastigava, ele se perguntou se era uma boa ideia explorar o assunto um pouco mais. Antes que pudesse decidir, ela engoliu e tomou um gole de água.
"Estou deduzindo que vai demorar até chegarmos à sobremesa e o café, então por que não começa a me contar como me conhecia?"
Ele assentiu. "Ok." Respirando fundo, ele tentou ignorar o pico nervoso em seus batimentos cardíacos. "Você lembra aquela fala de Hamlet que eu usei antes?"
" 'Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio...' - esta?"
"Sim. Existe uma outra parecida, mas de um cientista britânico chamado Haldane. Ele diz, 'O universo não só é mais estranho do que imaginamos, é mais estranho do que podemos vir a imaginar.' Eu nunca penso numa frase sem pensar na outra."
Ela sorriu. "Também gosto desta."
"O quanto você sabe sobre a teoria quântica?" ele perguntou.
Isso arrancou uma risada surpresa dela; claramente não esperava por essa pergunta. "Você está falando sério?"
"Estou."
"Eu... bem, deixe-me pensar", ela disse, brincando com a borda do copo. "Como a maioria das pessoas, eu lutei para entender Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking. E então eu assisti o filme. E depois de tudo isso, posso me orgulhar de ter entendido quinze ou vinte porcento de tudo, no máximo."
Ele deu risada, tomando um gole do vinho. Não tinha lhe escapado o fato de ela mal ter tocado na taça dela. Ele entendia que ela estava trabalhando com a segurança  mas ia precisar um pouco mais de fortificação pra continuar. "Eu também. Mas você já ouviu falar, então, do conceito de multi-universo?"
Ela olhou pra ele, a incredulidade divertida em sua expressão o fazendo dar risada, erguendo as mãos. "Isso tudo é relevante, eu juro, vou chegar ao ponto."
"Acho bom. Estou começando a pensar que não vou conseguir continuar a conversa. Teoria do multi-universo, se eu me lembro bem, diz que existe um número quase infinito de universos, quase idênticos ao nosso, existindo simultaneamente. Um escritor de ficção científica popular usou isso para explicar com a viagem no tempo podia ser possível."
"Você está se lembrando corretamente. E eu não sei sobre viagens no tempo, mas..." ele se inclinou pra frente, abaixando a voz, "... o que você diria se eu te dissesse que eu sei de fato sobre a existência de pelo menos um outro universo paralelo? Que eu estive lá, e conheci minha contraparte? E a sua, e a de Lois? E que pelo menos uma pessoa daquele universo este neste?"
Ele se recostou, esperando pela reação dela. Ela olhou pra ele, aparentemente alheia ao fato de que ainda estava segurando o garfo com salada a alguns centímetros do prato. Por alguma razão isso o incomodou, então depois de alguns minutos ele abaixou a mão dela. Ela olhou pra baixo, depositando o garfo cuidadosamente no prato, e respirou fundo.
"Eu diria que é definitivamente uma história que eu preciso ouvir."
*-*-*-*
Ele contou a ela sobre a troca de lugar dos Clarks. Sobre ter prendido Clark Kent e quase tê-lo matado com kriptonita antes de Clark conseguir convencê-lo que não era Clark Luthor. Sobre a carta de Tess, e a caixa espelhada que herdou de seus pais. Sobre como conheceu Ollie, e Chloe, e Tess Mercer, e Lois, e um time de pessoas com habilidades especiais. Ele contou a ela sobre Ollie o treinando e aconselhando, para que pudesse voltar e mostrar ao mundo um tipo diferente de justiça vigilante, e formar seu próprio time. E contou a ela sobre os meses de esforços mal sucedidos em encontrá-la.
Ela ouviu sem interromper, cautelosa mas extasiada. Em certo momento o garçom, sempre discreto, tinha removido os pratos de salada e servido as entradas.
"Como está seu ravióli de lagosta?" ele perguntou, interrompendo-se de dar outra mordida em sua carne.
"O quê?" Distraída, ela olhou para o prato e percebeu que metade de sua entrada tinha desaparecido. "Oh. Bom", ela disse, embora não conseguisse se lembrar de ter comido. Ela estendeu a mão para a taça de vinho, tomando um generoso gole. Eu deveria ter bebido mais. Talvez tivesse ajudado.
"Então, Clark Kent é uma boa pessoa", ela disse, tentando resumir. "Um heroi. Ele está noivo de Lois. E Ollie e Chloe são - um casal."
"Isso mesmo."
"Como ela é?" ela perguntou. "Chloe. No que ela é igual a mim, no que é diferente?" Mesmo que isso fosse uma mentira muito elaborada dele, ela duvidava que ele tivesse pensando em todos os detalhes. E o diabo estava nos detalhes.
Os lábios dele tremeram. Ele sabia o que ela estava fazendo, mas não tinha problema nenhum em responder a pergunta. "Ela é mais loira, e o cabelo dela é mais curto. Os olhos dela - mel é sua cor natural? Porque os dela são verde claros. E você realmente precisa de óculos? Porque ela não."
Ela tirou os óculos e olhou pra eles. "Não", disse. "São de mentira. Para Callie." Ela os colocou sobre a mesa. "E sim, esta é a cor natural dos meus olhos."
"Ela faz um pouco igual... distribuir a salada pelo prato, igual você", ele disse, fazendo um gesto circular com a mão na direção do prato dela. "E ela brinca com a borda do copo do mesmo jeito. Ela ergue um pouco as sobrancelhas como você faz. A voz, sua risada - são exatamente iguais. É difícil julgar seus hábitos alimentares por um jantar, mas ela gosta de comer, bastante, e é louca por café. Ela é inteligente, e hacker igual você, e pode ser sarcástica, como você, mas também é um completo doce." Ele ficou em silêncio, relembrando.
Ela ficou um pouco surpresa e também embaraçada em ter um reação emocional às palavras dele. Tentando acalmar a respiração, ela piscou rapidamente para dispersar as lágrimas que tinham aparecido do nada. "E... Ollie? E sobre ele, além do fato de que ele é um super heroi?"
Oliver pareceu sério, quase arrependido. "Ollie enfrentou coisas mais difíceis do que eu. Ele perdeu os pais um pouco mais cedo que eu e teve que amadurecer mais rápido. Algumas outras coisas também aconteceram com ele. Ele teve períodos difíceis, mas saiu deles mais forte. Basicamente agora ele é quem eu já deveria ser. Quem estou tentando ser."
As palavras dele não estavam realmente ajudando; ela não sabia porque estava reagindo deste jeito. Ela desviou o olhar por um momento, sob a mesa fechou o punho, tentando manter a compostura.
"Não é só ele, Callie", Oliver disse. "Todo mundo lá - eles são tão... otimistas. Altruístas."
"Você faz soar como se fosse uma utopia", ela disse, acalmando-se enquanto se lembrava que tudo isso era uma fantasia dele. Claro que era perfeita, ele tinha criado em sua cabeça. Uma fuga necessária, talvez, de quando as coisas estavam indo tão mal pra ele.
Mas se fosse isso, porque ele precisa continuar agora, quando ele era bem mais respeitado e admirado, quando sua empresa estava indo tão bem?
"Não é uma utopia, não. Se tudo lá fosse perfeito, eles não precisariam de um time inteiro de super herois. Só é... melhor. Mais positivo, mais aberto às possibilidades. Onde as pessoas vêem problemas e tentam encontrar soluções, ao invés de passivamente aceitar o jeito que as coisas são."
"Nem todo mundo é passivo", ela discordou. "Eu não sou. Você não é."
"Eu fui por muito tempo, no entanto. E você - claro que você não é passiva. Você é Chloe Sullivan." Sua voz era bem baixa para que só ela pudesse ouvir. Suas palavras de admiração a aqueceram e novamente, estava perturbada que a opinião dele importasse tanto pra ela.
Ele a observou refletir sobre tudo. Ela ainda não acreditava nele, mas queria acreditar. Ele não sabia como sabia disso, mas sabia.
"Eu quero ver", ela disse abruptamente.
"Como assim?" ele disse, confuso.
"A caixa espelhada. Eu quero vê-la."
"Oh. Claro, eu posso levar até o escritório, eu acho. Podemos marcar um dia..."
"Hoje. Eu quero que você me mostre hoje."
Ele a examinou atentamente. "Assim eu não terei chance pra comprar alguma antiguidade para confirmar minha história ridícula?"
"Algo assim", ela disse com impressionante honestidade, sorrindo pra ele.
O sorriso dele em resposta foi dócil. "Estou disposto a fazer isso, mas me sinto compelido a pontuar que isso significaria levar você, a mulher relutante a me acompanhar a um segundo lugar, para um terceiro. Tarde da noite. Um local com segurança pesada e onde não haverá ninguém além de você e eu."
Ela deu de ombros. "Você pode ser louco, mas eu passei bastante tempo com você pra saber que se for isso, pelo menos você não é do tipo perigoso. Vou arriscar."
Ela realmente era uma coisa. "Sobremesa? Café?" Ela balançou a cabeça. "Ok. Um pedido de artefato alienígena, saindo."
*-*-*-*
Então este prédio era dele. Ela sempre achou bonito, tinha apreciado como uma parte do horizonte de Metrópolis desde que se mudou pra cá, e sempre tinha vagamente se perguntado quem era o dono e qual era sua função, mas de algum jeito nunca se esforçou pra descobrir.
A primeira coisa que ela percebeu foi que não havia placas em lugar nenhum. A segunda coisa foi que não havia botões dentro do elevador. Junto com ele, dentro da pequena caixa, começou a se perguntar porque, exatamente, estava tão certa que ele não fosse um maníaco homicida.
Ele pressionou o polegar contra um pequeno painel, falando seu nome quando perguntado por uma voz computadorizada. Ele acrescentou um código de autorização para seu visitante, e ela pulou quando uma luz brilhante correu pelos dois dos pés à cabeça.
O painel retornou vermelho. "Arma de fogo detectada", a voz computadorizada disse.
Agora ele correu os olhos por ela. "Você está carregando?"
"Eu tenho uma arma na minha bolsa", ela disse.
Ele estendeu uma mão. "Posso? Como você vê, o prédio é seguro. Você está em segurança aqui."
Exceto talvez você, ela pensou. Pegando a pistola na bolsa, ela entregou a ele cuidadosamente. Ele olhou, descarregou e devolveu pra ela. "Eu devolvo a munição antes de sairmos", ele disse.
Pelo menos ela ainda tinha o spray de pimenta. "Como você sabe que não tenho outro pente na bolsa?" ela perguntou, incapaz de resistir a provocação.
Ele ergueu uma sobrancelha. "Você tem outro pente na bolsa?"
"Não", ela admitiu.
"Arma reconhecida. Controle manual de segurança", Oliver disse ao computador, e digitou uma longa sequência de letras e números quando foi pedida sua autorização.
"Segurança manual aceita", o computador disse. A luz vermelha no painel apagou e o elevador começou a ascender.
Ela cruzou os braços defensivamente, sem encontrar seus olhos durante o resto da viagem. Ele parecia relaxado, em seu elemento. E divertindo-se um pouco com a reação dela.
Por favor, Deus, não permita que ele seja um maníaco homicida.
Eles saíram do elevador e ele a conduziu por um curto corredor até uma porta dupla ornada com vitrais que pareciam não combinar com o prédio altamente tecnológico. Enquanto ele as empurrava, as luzes iam se acendendo sequencialmente, iluminando o enorme lugar.
Ela entrou na sala lentamente, virando-se enquanto o fazia, esticando o pescoço, muito impressionada com todos os detalhes para conseguir assimilar tudo de uma vez. Havia um andar superior sobre o piso principal. Em todo lugar - todo lugar - havia computadores, e monitores, e bancos de monitores, servidores. Parecia um centro de comando.
As luzes brilhantes e a alta tecnologia foram suavizadas, no entanto, pela bela arquitetura original. A grade correndo pelo andar de cima virava uma curva graciosa do corrimão da escada. Mais vitrais, na forma de janelas tanto largas quanto pequenas, que havia em todas as paredes. Sob seus pés, chão de madeira polida. E acima de tudo, um alto e arqueado teto.
"Wow", ela disse.
Oliver sorriu, feliz com reação dela. "Chloe Sullivan - bem-vinda à Watchtower."
Ela lhe deu um olhar de lado. "Você batizou de Watchtower?"
"Não fui eu", ele disse, "mas eu gosto muito do nome. Eu sou dono do espaço há muito tempo, mas ele era diferente. Eu modelei depois de ver a outra Watchtower de Chloe Sullivan."
"Bem, você certamente parece estar... preparado", ela disse, perguntando-se se estava parada no meio da maior e mais cara alucinação do planeta.
"Espera aqui. A caixa espelhada está no cofre." Ele subiu as escadas enquanto ela caminhava ao redor, olhando o equipamento, imaginando o que, exatamente, ele planejava fazer com toda essa tecnologia, e porque precisava daquilo.
Depois de alguns minutos, ele desceu as escadas mais lentamente, segurando algo enrolado num pano macio. Ela o encontrou no fim das escadas, seus olhos fixos no objeto nas mãos dele, mas ele não a entregou imediatamente, mantendo fora de seu alcance.
"Eu estou feliz em te mostrar isso, mas eu tenho uma condição. Você pode olhar, você pode segurar - mas com uma só mão."
"O q-- posso perguntar por quê?"
"Porque são necessárias duas mãos para operá-la", ele disse.
"Ah. E você não confia que eu não vá tentar mandar a gente para uma pequena viagem pelo multi-universo?" ela disse, compreensivamente.
"Mais ou menos isso, sim."
Mais uma vez ela se encontrou se perguntado o quanto este cara tinha os pés na realidade. "É justo."
Quando ele desembrulhou o objeto, parecia como um caleidoscópio octogonal espelhado. Ele olhou pra ela esperando; assentindo, ela estendeu uma mão e fez um show colocando-a atrás das costas.
O objeto era mais pesado do que ela tinha esperado, e estranhamente quente ao toque. Talvez ela fosse mais sugestionável do que pensou, mas... o artefato parecia alienígena pra ela. E embora não estivesse soando ou vibrando ou brilhando ou fazendo qualquer coisa além de continuar perfeitamente inerte, ela jurava que podia sentir algum tipo de poder emanando dele.
Segurando perto para inspeção, ela notou estranhos símbolos ao redor das duas metades. "É linguagem kriptoniana? O que quer dizer?"
"De acordo com os diários dos meus pais, quando você os alinha, eles criam um símbolo kriptoniano para água. Que também significa 'transferência'."
Ela pareceu intrigada. "Então... existe um limite de vezes que ele pode ser usado, você pode ir para outro universo diferente do que já foi, consegue..." ela começou.
Ele ergueu as mãos em rendição. "Eu sei que a repórter em você etá morrendo pra ter todas as respostas, e eu gostaria de poder satisfazer sua curiosidade, mas a verdade é que eu não sei muito mais do que te contei. O total do meu conhecimento vem dos diários dos meus pais e do que Ollie, Chloe e Clark me contaram, o que não foi muito, sinto em dizer."
"Bem. Isso é frustrante", ela disse e girou o dispositivo na mão novamente. "Tem uma coisa que eu não entendo. Se fez os Clarks trocarem de lugar quando Clark Kent usou pela primeira vez, por que não fez você trocar de lugar com o outro Oliver quando você usou?"
"Eu também me pergunto isso. A única explicação a que eu consegui chegar é que só funciona deste jeito com kriptonianos." Ele deu de ombros.
Ela devolveu o cilindro e ele cuidadosamente o re-embrulhou antes de levá-lo para o cofre novamente.
Quando ele desceu, parou na frente dela, olhando pensativamente. "Uma coisa que eu tenho e que você vai achar interessante. Antes de eu partir, Chloe me deu um drive externo com todos os arquivos sobre a Liga e seus membros, suas missões, toda a tecnologia que eles usam, programas de segurança, informações sobre os Luthors, tudo que ela achou que pudesse me ajudar aqui. Você gostaria de ver?"
Ela lhe deu um olhar impaciente. Que tipo de pergunta idiota era essa? "É claro que eu quero ver."
"Eu imaginei." Ele a levou até um dos terminais e puxou um banco. Logando o dispositivo no computador, ele encontrou o arquivo que estava procurando e direcionou a atenção dela para a tela. Ela olhou e viu uma foto de si mesma.
Ela quase caiu pra trás. Como Oliver tinha dito, sua versão tinha um cabelo mais loiro e mais curto, e não usava óculos. Ela colocou o dela sobre a cabeça, já que realmente não precisava dele. "Eu costumava usar meu cabelo assim. Antes de começar a me disfarçar", ela disse distraidamente. "Chloe Sullivan", leu em voz alta. "Codinome: Watchtower. Conexão da equipe; pesquisa, sistema de informação, comunicações, segurança." A data de aniversário e estatísticas vitais eram as mesmas que as dela.
Ele foi para a página seguinte, onde uma versão um pouco mais loira e com olhos castanhos dele apareceu. Ela arregalou os olhos. "Este é o uniforme dele? Wow."
"Você não gosta?" ele perguntou, um pouco surpreso.
"Bem. Você sabe. É... couro verde. É como um uniforme do Robin Hood altamente tecnológico. Mas eu tenho que dizer, funciona", ela concedeu e se virou pra ele. "Você... tem...?"
"Meu uniforme não é idêntico", ele disse. Agora ele parecia um pouco na defensiva. "Mas bastante parecido, sim."
"Eu... acho que só é preciso vestir com atitude, como dizem naqueles programas de moda", ela disse, virando-se para o computador. Ela sentiu, mais do que viu, a surpresa dele. "Sim, eu assisto programas de TV ruins às vezes, me processe. Oliver Queen", ela leu o monitor. "Codenome: Arqueiro Verde. Líder da equipe; planejamento tático, logísticas e armas. Habilidades especiais: arco e flecha avançado, artes marciais."
Ele a apresentou o perfil de todos os membros e ela leu cada palavra, fascinada. Então outras pessoas além de Clark tinham habilidades especiais. E Tess - a outra Tess - era uma boa pessoa?
Se isso era uma fantasia elaborada por ele, certamente havia investido uma grande quantidade de tempo e esforço nela. "Você já procurou essas pessoas aqui?" ela perguntou.
"Procurei. Encontrei algumas. O resto ou não existe aqui, ou existe sob outra identidade e eu ainda não consegui descobrir qual, ou eles não querem ser encontrados. Mas estou planejando começar a recrutá-los assim que eu estiver confortável com meu próprio alter ego." Ele apertou mais algumas teclas. "Você quer ver os esquemas de segurança?"
"Sim. Mas... você se importa?" Gentilmente ela tirou as mãos dele do teclado e o puxou na direção dela. "Desculpe, é só que--"
"...aqueles dez segundos num computador normal são como um ano e meio no tempo hacker, certo?" Ele sorriu pra ela. "Estou indo tão devagar que está te matando."
Ela sorriu de volta. "Bem, sim." Seus dedos voaram pelas teclas, ela rapidamente entrou no diretório principal e começou a clicar nas pastas e subpastas.
Ele estava muito ocupado admirando sua destreza manual para perceber imediatamente que ela estava digitando mais devagar, e ele já ia fazer uma piada quando olhou pra ela e viu que ela estava pálida. Ela continuou apertando as teclas por outro minuto ou mais antes de se afastar da mesa.
"Ei, você está bem? Callie? Chloe?" Ela não tinha tirado os olhos da tela ainda, e parecia - chocada, magoada. "O que foi?"
Ela mordeu o lábio, ainda olhando para o monitor. "Este diretório", ela disse, sua voz mal um sussurro. "Sou... eu. É trabalho meu."
Ela se virou para olhar pra ele, seus olhos brilhando com lágrimas represadas. "O jeito que está organizado, as convenções para nomeá-los..." Sua voz quebrou um pouco, e ela parou, engolindo em seco. "Eu não reconheço algumas das referências a cultura pop, mas tirando isso... eu não acho que ninguém poderia criar um diretório deste tamanho, com este tipo de informação, exatamente deste jeito, exceto eu." Parecia uma foto tirada de dentro de sua cabeça.
As lágrimas estavam descendo agora. Ele finalmente entendeu o que ela estava dizendo.
"Você acredita em mim."
Ela não estava acreditando, de verdade, até este momento. Oh, ela queria acreditar: a parte nerd e obcecada por ciência reconhecia o quanto seria legal essa coisa de universo paralelo, e a parte otimista dela desejava um mundo melhor especialmente porque as pessoas acreditavam que era possível.
Ela balançou a cabeça. "Eu só... não vejo como discutir com isso." Ela gesticulou na direção do monitor.
O rosto dele relaxou agradecido, a expressão mais aliviada que ela já tinha visto no rosto de outra pessoa. Ele se afastou até a outra mesa e meio se inclinou, meio se sentou, pensando que não poderia confiar em suas pernas por muito mais tempo. "Depois desse tempo todo, você não faz ideia de como é bom poder contar isso tudo a alguém, e vê-la acreditando em você", ele disse com a voz rouca.
Enxugando as lágrimas do rosto, ela lhe deu um sorriso em retorno. "Eu posso imaginar." Envergonhada por sua exibição emocional, ela clareou a garganta. Houve um longo momento de silêncio entre eles até ela falar novamente. "Então, o que eu posso fazer pra ajudar?"
Ele olhou pra ela. "Você quer ajudar?"
"Como eu posso não querer?"
Ele continuou a olhar pra ela embora estivesse tentando tomar uma decisão sobre alguma coisa. Finalmente ele se levantou e foi até ela.
"Eu não estava planejando fazer isto esta noite, mas acho que não há momento melhor que o presente. Chloe, eu quero que você se junte a mim."
Ela piscou. "Me juntar a você?"
"Eu preciso da minha própria Watchtower. Eu preciso de uma hacker e uma pesquisadora, uma conexão com a equipe e alguém que me ajude a recrutar. Você pode fazer tudo isso. Eu estou pedindo que você me ajude a construir esta equipe."
A mente dela ficou em branco, fechando-se em protesto. Estava tudo acontecendo muito rápido. Ela tinha decidido há apenas dois minutos que este homem não era um completo maluco, e agora ele está pedindo - o quê? Que ela pare com as reportagens e se envolva com um bando de super herois em tempo integral?
"Eu não entendo. Como isso ia funcionar? Você está pedindo pra eu largar meu emprego?" Incapaz de continuar sentada, ela se levantou, andando de um lado para o outro enquanto sua mente catalogava rapidamente os prós e contras.
"Não, não completamente. Você é uma freelancer, certo? Disfarce perfeito. Você pode trabalhar o quanto quiser, e suas credenciais de imprensa seriam úteis pra você conseguir entrar em lugares que seriam difíceis de outro jeito. Mas você estaria na minha folha de pagamento. Eu posso acrescentar você como uma consultora da Queen Industries. Projetos Tecnológicos Especiais, ou alguma coisa assim. Claro, você teria que de fato fazer algum projetos para a QI, no caso de eu ser auditado. É assim que Ollie e Chloe faziam. Eles disseram que funcionava perfeitamente. Mas este seria seu escritório. Seu local de trabalho."
Ela se virou de volta pra ele e ele podia ver que ela estava chocada. "Desculpe. Foi muita coisa de uma vez. Claro que você precisa de tempo pra pensar."
"Não", ela disse, surpreendendo a si mesma de novo. "Eu não preciso."
O que você está fazendo? Sua voz crítica interna gritou. Você enlouqueceu! Você não conhece esse cara! Ignorando, ela disse. "Eu aceito o trabalho."
"Sério?" O rosto dele relaxou mais uma vez naquele enorme e agradecido sorriso. Ele parecia dez anos mais jovem quando sorria desse jeito; era impossível não retribuir o gesto. "Isso é maravilhoso. Você pode começar assim que quiser. Segunda, amanhã, agora neste minuto, a qualquer hora." Ela deu risada.
"Primeiro eu me comprometi a escrever um artigo sobre um certo homem de negócios local, mas depois disso sou toda sua."
Isso provavelmente foi um jeito completamente inapropriado de se dizer. Eles estavam só a alguns passos de distância, e de repente ela se sentia bem consciente de que estavam sozinhos ali. Muito sozinhos. Não de um jeito opa-esse-cara-pode-ser-um-assassino, mas mais do tipo opa-isso-parece-um-encontro.
Depois de uma batida, ele se aproximou dela, e ela se perguntou por um momento se ele tentaria beijá-la. Ao invés, ele estendeu a mão pra ela, como tinha feito mais cedo naquele dia, no escritório. Ela hesitou, então estendeu a mão. Ele a apertou com firmeza, seus olhos azuis olhando intensamente para os dela.
"Que fique registrado na História, que neste dia e hora, neste local, a primeira reunião oficial da Liga da Justiça aconteceu. Membros presentes: Arqueiro Verde e Watchtower. Vamos dispensar a leitura dos minutos", ele acrescentou. Ela segurou a risada. "Os dois membros fundadores concordaram que a primeira e mais importante ordem seria recrutar e expandir os membros da equipe. A reunião foi encerrada."
Deveria ter soado ridículo, melodramático ou exagerado, mas não soou. O momento pareceu forte, significante. Esta coisa que estavam fazendo ali - era grande. Ela também sentia.
Talvez fosse destino.
"Que fique registrado na História", ela disse, esboçando um sorriso, apertando a mão dele em retorno.
Ele suspirou. "Agora que isso está resolvido, acha que podemos beber algo de verdade pra celebrar? Eu tenho uma boa garrafa de malte escondida por aqui."
E desse jeito, a pompa deu lugar ao prático. Ela também relaxou. "Eu adoraria. Obrigada."
___________Dois
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