28.9.10

Saving Grace

Título: Salvação
Resumo: Como Chloe sobrevive ao cativeiro.
Autora:
the_bluesuede
Classificação: NC-17
Categoria: Tragédia/Dor&Conforto/Romance
Aviso: Violência
Banner: miss_morrygan


"Ele viria e essa seria sua salvação."

SavingGrace


O impacto do soco contra o rosto de Chloe fez sua cabeça tombar inerte para o lado.

Calmamente, sem emoção, ela virou o rosto para baixo e cuspiu o sangue e a bile de sua boca no chão.

"Bom dia", veio a voz masculina que ela detestava cada vez mais com o passar dos dias... há quanto tempo ela está aqui? Semanas? Meses?

Ela lembrou o número de dias que ela vinha contando.

Meses, ela pensou inexpressivamente. Três meses, uma semana e quatro dias.

Em voz alta, Chloe não disse nada, como vinha fazendo. Ela tinha dúvidas se ainda era capaz de falar. Não falava há muito tempo. Isso também a fazia imaginar se suas cordas vocais ainda estariam funcionando.

Seria bom poder conversar, ela pensou quando outro soco a atingiu novamente. Ele estava falando de novo, mas ela escolheu ignorar suas palavras. Ele dizia sempre as mesmas coisas, fazia sempre as mesmas perguntas implacavelmente. E ela, da mesma forma, se recusava a respondê-lo.

Sua mente viajava pensando em Oliver, que ela tinha certeza lidaria com isso de um jeito diferente... tinha lidado de um jeito diferente. Ele seria irritante e sarcástico e seu senso de humor amargo teria sumido há muito tempo. Era seu mecanismo de defesa.

Uma mão pegou seu queixo, forçando-a a olhar para seu agressor.

O que era obviamente inútil, ela pensou. Seu olhos estavam fechados de tão inchados naquele momento. Mesmo que não estivessem, ela ainda olharia vidrada, fixando seu pensamento em outra lembrança. Ela não o ouvia. Nunca ouvia o que ele dizia. Era por isso que eles estavam furiosos. Eles imaginaram ter acertado na loteria quando a Watchtower se ofereceu para trocar de lugar com o Arqueiro Verde. Ela era a cartada final deles, sendo a portadora de segredos e informações que era.

Não imaginaram que ela se fecharia completamente pra eles, a não ser que fosse para gemer em resposta à agonia.

Durante uma semana eles tentaram mudar de estratégia -- ela foi limpa, alimentada, tratada como convidada enquanto tentavam convencê-la de que eles não eram realmente caras maus e tudo o que ela precisava fazer era lhes dar algumas respostas e ela poderia acabar com tudo isso.

Ou, pelo menos, essa era a essência do plano, ela supôs.

Ela não tinha prestado muita atenção.

No fim, sua falta de criatividade venceu. Quando ser 'legal' não os levou a lugar nenhum, a tortura voltou. A fome, os espancamentos, as passadas de mão.

Deus, ela estava faminta. De acordo com seus cálculos fazia três dias desde sua última dita refeição -- meio copo de água e pão velho, endurecido.

Vamos lá, Chloe, ela se alertou, encontre uma lembrança. Se pensasse em comida muito tempo, ela ficaria fraca. Comida não importava. Eles tinham que mantê-la viva, então teriam que lhe trazer comida eventualmente.

Finalmente sua mente passou pelo fim de semana na Pousada MacDougal. Ela se lembrou o quanto tinha sido tola, com um pequeno, quase imperceptível sorriso. Vagamente, ela percebeu que seu ombro tinha um ângulo desagradável. Simultaneamente, ela relembrou aquela ridícula colher.

Eu fiquei tão chateada com uma coisa tão... inacreditavelmente pequena. Era só uma colher, pelo amor de Deus.

Ela cerrou os dentes quando percebeu que seu ombro estava definitivamente deslocado. Aquela voz vil estava crescendo em seus ouvidos enquanto ele a empurrava com força para sua posição.

E depois ele me comprou um satélite e eu não disse nada. Deus, que estúpida. A colher me transtornou, mas eu aceitei o satélite.

Ela arfou involuntariamente quando a dor em seu ombro aumentou.

Por favor, Deus, me faça desmaiar logo. Os dias em que ela desmaiava eram os mais fáceis, mas também enervantes porque ela tendia a perder a noção do tempo.

E quem sabe, talvez isso fosse uma coisa boa.

Ela sabia que o tempo não importava de verdade. Não sabia quanto tempo ia ficar ali, que as coisas seriam desse jeito, mas ela sabia que ele viria atrás dela. Oliver viria. Ela tinha visto.

Mesmo que não tivesse usado o capacete de Nabu, ela ainda teria fé. Oliver jamais desistiria dela. Mesmo em suas atuais condições ela conseguia perceber a ironia, no entanto. O capacete lhe perguntou se ela estava disposta a sacrificar sua sanidade para salvar o arqueiro, mas colocá-lo era o que preservaria sua sanidade. Porque sabendo que tudo isso teria um fim, ela não perdia a fé, nunca perdia a esperança de que acontecesse mais cedo do que ela esperava. Ele viria e seria sua salvação. Era o que a mantinha sã.

Ela fechou os olhos quando foi arremessada contra o chão e cometeu o erro de usar o ombro agora machucado para se apoiar, mas nenhum som escapou de seus lábios.

Aquela habilidade de cura seria bem útil agora, ela deu uma risada amarga internamente. Não que lhe fizesse qualquer bem. Ela podia curar os outros, mas não ela mesma.

A história da sua vida.

Foco, Chloe, ela se cobrou. Sem pensamentos negativos. Isso era importante. Se ela deslizasse para essa visão cínica, eles venceriam. Ela se transportou novamente para o fim de semana que ela e Oliver tinham passado juntos, tentando lembrar as cores exatas e os padrões do tecido dos roupões que usavam quando Lois e Clark os pegaram.

Lois.

Tomara que ela esteja bem. Sua expressão se suavizou um pouco, embora seu agressor fosse muito cego para detectar a diferença. Mas Clark está tomando conta dela. Não tenho nenhuma dúvida. Os dois vão cuidar um do outro mesmo com o mundo inteiro desabando ao redor.

Um pé atingiu sua lateral, entortando-a. Ela tossiu mais sangue.

Quem imaginava que eu tivesse tanto sangue? ela pensou ao acaso. Eu provavelmente perdi o suficiente para ter salvo muitas vidas até agora, se estivesse doando. Sua mente divagou. Tanto sangue... isso soa tão familiar. Era Shakespeare? Ela voltou os pensamentos para a época do colégio. Macbeth talvez. Uma das poucas peças de Shakespeare que ela havia lido.

Hmm, não é uma boa linha de pensamento, ela redirecionou sua mente enquanto lembrava partes da história da esposa e do filho de MacDuff.

Oliver e eu deveríamos ir mais ao teatro quando tudo isso acabar.

...assumindo que ele vai me deixar sair da torre novamente. Por alguma razão suspeito que ele ficará ainda mais super protetor do que o General no baile de formatura. Internamente ela suspirou ao pensar em seu tio. Não seria ele quem a encontraria, mas saber que ele também estava procurando por ela era tocante e... inexplicavelmente reconfortante.

Mmph. Costelas machucadas.

Ouviu-se um barulho e ela se corrigiu.

Melhor dizendo. Costelas quebradas.

Ela se perguntou quanto tempo eles lhe dariam para se recuperar dessa pequena peripécia. Quando as surras eram mais brutais, eles costumavam lhe dar alguns dias para se recuperar um pouco.

Ela sabia que estava piorando as coisas pra si mesma. Quanto mais ela aguentava, mais irritados eles ficavam. Ela sabia que alguma coisa estava dando errado para justificar o excesso de violência.

Ela fisicamente riu com o pensamento.

Ótimo.

E então, como ocasionalmente acontecia, algo que ele disse a trouxe de volta. Ela lutou para fechar-se novamente, mas qualquer palavra sobre Oliver a distraía facilmente.

"... li sobre ele no jornal hoje", a voz disse presunçosamente. "Ele está seguindo com a vida dele sem nenhuma dificuldade pelo que eu vi. Isso incomoda você, eu imagino?" Ele desferiu outro chute nas costelas já quebradas, forçando a respiração de Chloe enquanto ela lutava para não vocalizar a dor. "Te incomoda saber que ele está sendo tão ingrato ao seu sacrifício? Ele não deveria ter invadido isso aqui há muito tempo para salvar você?" Ela podia ouvir o desdém em sua voz quando ele disse a palavra. Seu desprezo pelo status de 'heróis' que eles tinham havia ficado irritante depois do primeiro dia.

Ela continuou suas tentativas de se fechar novamente. É mentira, ela disse a si mesma com firmeza, convicta de que estava certa. Ele está contando mentiras desde o primeiro dia. Eu conheço meu destino, e não envolve Oliver esquecendo de mim.

"Ele nem sente sua falta, sente?" Ela foi arrastada impiedosamente para ficar de pé. "Afinal", ele sibilou. "Por que ele sentiria? Ele pode ter qualquer mulher que ele quiser, não pode?"

Ela fechou os olhos, forçando sua mente a se concentrar no xadrez dos roupões de banho. O canto de sua boca se curvou carinhosamente.

Ele não viu. "Pra que ele precisaria de você, afinal?"

Pelo meu brilhante senso de humor e minha inteligência notável, ela brincou consigo mesma. Ah, e por como eu sou incrível na cama.

Quando ela saísse daqui ia manter Oliver prisioneiro por pelo menos um mês e eles não fariam nada além de sexo extremamente quente. O dia inteiro, todos os dias.

Bom, exceto comer e ir ao banheiro. Mas fora isso, uma total festa do sexo.

Ela vagou agradavelmente pelas imagens de Oliver sem camisa... e ela tinha muitas delas armazenadas.

Por que esse homem ficava pelado o tempo todo, afinal? Era como se... as camisas literalmente fugissem dele.

Farto dela novamente, a mão acertou seu rosto brutalmente, fazendo seu olho parecer que ia explodir. A força do soco derrubou-a no chão, mas a risada interna sobre a falta de roupas de Oliver a impediu de se concentrar muito em suas costelas quebradas e o ombro deslocado.

Ela ouviu imóvel do chão o som dos passos sumirem à sua direita e a porta ser fechada, e trancada.

Ela ouviu os gritos raivosos e incoerentes do outro lado da porta, tudo isso também desapareceu finalmente.

Ela sorriu no chão.

Um dia a menos. Os vilões ficaram frustrados novamente. Semana que vem nosso herói vai fazer tudo isso de novo.

Ela deu um suspiro áspero e vacilante, tentando não respirar muito fundo com suas costelas machucadas. Se tivesse sorte, talvez estivessem apenas quebradas.

Ela deitou a cabeça sobre o ombro, muito exausta para tentar se levantar e se arrastar de volta para a cadeira.

Emil teria um dia cheio com ela.

Ela balançou a cabeça. Emil não seria nada comparado a Clark.

E Clark não seria nada comparado a Oliver.

"Ollie", ela resfolegou, sua primeira palavra desde que estava ali. Ela estava certa, sua voz estava rouca pela falta de uso. Quando saísse, ela ia falar propositalmente no ouvido de Oliver sobre as coisas mais absurdas que ela pudesse pensar. Colheres e roupões de banho e café e roupas coladas e muita, muita conversa sobre sexo.

Ela deu uma dolorosa, arfante risada, se arrependendo instantaneamente. Ela se forçou a deitar de costas, ignorando a dor que se seguiu. Deitar de costas para endireitar sua coluna era o máximo que ela podia fazer para recuperar seu corpo na tentativa de nada se remendar do jeito errado.

Ollie, por favor, vem logo. Deus, por favor faça ele chegar logo.

"Deus, eu amo aquele homem", ela sussurrou para Deus.

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5 comentários:

  1. Ah, e amanhã posto uma comédia 'delicinha' para compensar... promessa!!!

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  2. Eu tenho que parar de ler essas fic tristes, essa me deixou triste. ='(

    Eu conheço meu destino, e não envolve Oliver esquecendo de mim.

    Vilm@

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  3. Ai meu deus!
    Acho que preciso mesmo de tempo pra poder ler essas fics.

    De cortar o coração.

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  4. "Ollie, por favor, vem logo. Deus, por favor faça ele chegar logo."

    Ai Meu Deus!!!

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  5. uma fic maravilhosa
    a BlueSuedeShoes é a kara neh
    amei

    "Ollie, por favor, vem logo. Deus, por favor faça ele chegar logo.

    ´Deus, eu amo aquele homem´, ela sussurrou para Deus."

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