13.7.14

Nothing Remained But Your Eyes (3/8)

Título: Nada Restou Além Dos Seus Olhos
Resumo: No final de sua vida, Oliver Queen pede à mais poderosa feiticeira do universo que lhe conceda um desejo. Agora ele tem uma nova chance de viver o que perdeu uma vez.
Autora: tennysonslady
Classificação: NC-17
Nota da Autora: Um dos meus poetas favoritos é Neruda, e muitas das minhas histórias foram escritas ancoradas em versos dos poemas de Neruda. Cada parte desta história que eu quero contar é ancorada pelo Soneto XC dos Cem Sonetos de Amor.
Anteriores: 01 :: 02

A casa diáfana que construímos para uma vida inteira juntos--
Tudo deixou de existir, até não sobrar nada além dos seus olhos.

Ela sonhou na noite anterior, e no sonho ela era importante. Havia toques, mãos fortes, braços capazes de segurá-la como se ela fosse algo precioso. Naqueles sonhos havia um universo de beijos que a rodeavam, e seu céu parecia iluminado por milhares de sorrisos que falavam que ela era a coisa mais valiosa do mundo.

Seus sonhos eram diferentes,  vertiginosos e estranhos. Quando acordava de seus sonhos, ela sentia o coração começar a bater mais devagar. Era uma sensação meio fugaz. Afinal, ela vivia a vida que importava. E ainda assim, não conseguia deixar de desejar se agarrar às pontas daquele momento perdido. 

Acima e além de qualquer coisa, Chloe Sullivan queria importar. Ela queria importar tanto que jogava tudo o que tinha nas coisas que fazia.

Sua vida inteira, Chloe foi bastante confiante em seu talento esmagador em pesquisa e escrita. Ela estava no segundo ano quando soube que ia bater os outros candidatos ao posto de editor-chefe do jornal do colégio. Estava no primeiro ano da faculdade quando Lionel Luthor lhe ofereceu uma coluna no Planeta Diário. 

Não. Chloe Sullivan não sofria por falta de confiança em sua vida. Para muitos daqueles que liam suas palavras ela importava, e ainda assim ela não podia sentir que havia um vazio no jeito que ela era importante, e que para alguma outra pessoa, ela poderia se tornar muito mais.

Com a confiança em seus próprios talentos vinha o bom senso para entender suas próprias falhas. Ela as reconhecia pelo que eram e aceitadas como um fato. Nem todo mundo poderia parecer tão angelical quanto sua amiga do colégio, Lana Lang ou com pernas tão compridas e cheia de curvas como Lois. Mas Chloe tinha seus traços e sempre soube que seria uma luta para entrar nas roupas que conseguia emprestar de Lois. Ela só teve que dizer a Lex que tinha um guarda-roupa à sua disposição para que ele conseguisse o convite que ela queria.

Chloe deduziu que poderia sair com sua prima para fazer compras quando os convites chegassem. Lois conhecia os melhores lugares para comprar uma roupa de gala. Ela provavelmente tinha um cartão de cliente. 

"Você só pode estar brincando. Eu tenho um armário cheio de roupa!" Lois exclamou quando Chloe tocou no assunto. O cinza ao seu redor se encheu de cor ao som da voz de Lois. "Para que é?" veio a pergunta.

Nem uma hora depois de Chloe contar a Lois que ia a Exibição Ísis em Metrópolis, Lois correu até ela com alguns vestidos que havia escolhido.

Foi uma visão que a fez dar risada. "Quem mais no mundo inteiro teria quatro fantasias egípcias no armário?" ela perguntou, pegando um vestido curto com alças cruzadas nas costas. O decote frontal fez o vestido ser jogado na cama. "Obviamente este não vai me servir."

"Então eu uso!" Lois declarou.

"Você vai?"

"Vou pedir para meu chefe mudar minha tarefa", as palavras saíram da boca de Lois. "Eu não perderia por nada neste mundo."

Chloe olhou para sua prima curiosa. Não era nada tão grande para fazer sua prima desistir de outra matéria. Mas um olhar no rosto de Lois a menção da Exibição Ísis de Queen e ela parecia flutuar de felicidade.

"Uma exibição egípcia antiga em um museu não é nenhuma novidade", Chloe relembrou Lois.

"Vai mudar o mundo", foi a resposta de Lois. "Acredite em mim." Houve um suspiro impaciente, e finalmente, Lois exclamou, "Aqui. Pegue este." Lois pegou o último vestido e entregou a ela. "Eu comprei pra você há alguns meses."

Porque sua prima lhe compraria um vestido Chloe jamais saberia. Como Lois sabia o suficiente para comprar uma roupa que coincidentemente combinasse com a Exibição Ísis era ainda mais intrigante. Mas ela pegou o vestido creme e vestiu, então se virou de frente para Lois. "Serve!"

"Serve", Lois murmurou com um sorriso nos lábios e olhos cheios de lágrimas.

Lois conseguiu um carro para as duas, com Clark, irem ao baile do museu. Um olhar no carro e Chloe ergueu as sobrancelhas. "Olha quem conseguiu um carro de luxo", ela comentou enquanto o carro parava em sua frente.

"Não vamos economizar esta noite", Lois declarou.

Havia algo especial sobre aquela noite. Pelo menos especial para Lois. Chloe jogou um olhar furtivo a Clark e viu ele puxar o pescoço da camisa que usava. Chloe arregalou os olhos.

Era tão aparente o quanto Clark estava nervoso no carro. A testa franzida era familiar, mas Chloe não o via assim há algum tempo - não desde que o apresentou a sua prima. Era verdade o que diziam, ela percebeu. Todas as preocupações do mundo saem de seus ombros no momento em que você encontra a pessoa destinada a passar a vida inteira com você. Desde que Lana foi embora e seu pai morreu, Clark se tornou a personificação da tristeza.

Lois trouxe a vida de volta aos seus olhos.

"Você não sabe como eu fico feliz que nada tenha acontecido entre nós", ela disse a ele uma vez. E era verdade. Como ela olharia para sua prima sabendo que Lois era a alma gêmea dele e ela tivesse alguma vez mais do que beijado Clark?

Então Chloe pôde logo formar a ideia em sua cabeça.

"Você está agindo como se fosse o dia do seu casamento", Chloe murmurou, jogando a isca para Clark sobre o que ela imaginava ser especial naquela noite. Havia animação e medo suficiente no rosto de sua prima que Chloe pensou que ela suspeitasse que fosse a mesma coisa.

Lois olhou para ela de olhos arregalados. Ela olhou para Clark, e Chloe pensou sobre o pânico naqueles olhos. Ela deu um pequeno sorriso. "Eu adoraria que você fosse minha dama de honra se algum dia eu casar com Clark", ela disse suavemente.

Havia um traço de arrependimento naquelas palavras. Chloe estreitou os olhos e balançou a cabeça. "Eu jamais perderia o dia do seu casamento, Lois."

"Lois", Clark disse, sua voz profunda no carro.

O carro parou. Chloe se virou para olhar o lado de fora, as luzes e a multidão. Ela respirou fundo. "Quem imaginaria que um baile de gala num museu para ver artefatos egípcios atrairia tanta gente?" E então ela se lembrou da referência de Lex sobre o patrocinador e soube imediatamente que metade do público estava ali mais para ver Oliver Queen do que por Ísis ou Osíris. Ela certamente queria ver em primeira mão os tesouros que Queen tinha conseguido da mais intrigante e antiga prova de amor eterno. Chloe abriu a porta e se virou quando sentiu um puxão urgente em seu braço. "O que foi?" ela perguntou a Lois.

Quando ela percebeu os olhos lacrimejantes de Lois, ela se virou confusa para Clark, mas seu melhor amigo já tinha saído do carro e caminhava até a porta do lado de Lois. Chloe olhou de volta para Lois e colocou a mão sobre a dela.

"Você está agindo de um jeito estranho, Lo", ela disse lentamente.

Mas então Lois sussurrou, "Eu só queria checar sua maquiagem." Lois balançou a cabeça. "E então eu percebi que não importa. Você está linda, Chlo." Ela suspirou. Lois abriu a porta. "Vem. Vamos."

Sua prima tinha um segredo. Era um segredo que Clark sabia. E não era justo, mas Chloe se lembrou que não queria saber nada sobre os dois.

O vestido era bastante simples. Lois a conhecia bem, e não selecionou nada brilhante, ou fofo demais, ou muito curto que todo mundo fosse conhecer metade de seus segredos ao olhar para a barra. Mas mesmo em sua simplicidade, o momento em que Chloe entrou no enorme salão foi como se estivesse entrando num sonho.

Ela caminhou em direção a uma vitrine e estudou o colar que Lois descreveria como espalhafatoso. Seus olhos caíram sobre o texto que explicava onde o colar fora encontrado, e a evidência de que de fato pertencera a Ísis - o presente de um deus para uma deusa.

"Não pude deixar de percebê-la admirando o colar, Srta. Sullivan."

Ela olhou para cima, e imagens de areia de deserto e um lindo príncipe se dissiparam como a areia de uma ampulheta quebrada. Quando os grãos se dissiparam foram os olhos cinza azulados de Lex que ela viu. "Não está preocupado que alguém tire uma foto nossa, Sr. Luthor?" ela retornou, sabendo muito bem que qualquer fotografia roubada os entregaria facilmente se Lionel já desconfiasse de alguma coisa.

"Eu engoli meu orgulho e liguei para o Queen para pedir seu convite. Eu deveria ao menos poder me beneficiar de vê-la aqui", Lex a informou. Ele assentiu em direção ao colar. "Jamais imaginaria que é seu estilo."

"É o sentimento que eu admiro", ela disse a ele. "É um presente tão pessoal."

Chloe se virou e viu sua prima numa discussão acalorada com Clark, e quando Lois se virou para ela, o coração de Chloe pulou para a garganta. Era uma expressão tão assombrada, desesperada que a preocupou. Ela começou a se afastar de Lex para ir em direção aos dois.

Ele colocou as mãos nos ombros dela, e Chloe o ouviu alertar. "É uma conversa privada."

"Eu não posso ficar de lado", ela respondeu.

Lex a soltou, e enquanto ela atravessava os inúmeros artefatos que contavam a história de Ísis e Osíris, e falavam muito sobre a obsessão doentia de um bilionário com uma história atemporal, Chloe sentiu um arrepio na nuca. Seu coração desacelerou, batidas irregulares. Ela olhou para trás e viu que Lex estava envolvido em outra conversa. Ela fechou os olhos e respirou fundo, concentrando-se em cada som, cada respiração, cada sensação ao seu redor.

Ele estava ali.

Ela abriu os olhos e lentamente virou a cabeça.

De cima. Vinha de cima.

As luzes logo abaixo das plataformas criavam sombras que a cegaram. Era pura escuridão ali, mas Chloe sabia que alguém acima deles era a ameaça, aquela presença de seus pesadelos, aquele homem que a observava morrer. Por um segundo ela debateu voltar até Lex. Em vez disso, ela se virou de volta para onde tinha visto a prima pela última vez brigando com Clark.

Agora Lois estava sozinha. Seus passos diminuíram, e a sensação começou a desaparecer. Chloe se aproximou de Lois e notou sua testa franzida. Ao vê-la, Lois abriu um gentil sorriso.

"Eu vi você discutindo com Clark. O que ele fez agora?" Chloe perguntou. O garçom passou e Chloe pegou duas taças de champanhe da bandeja e entregou uma a Lois.

O sorriso falso de Lois se tornou um pequeno sorriso verdadeiro. "Você sempre deduz que é culpa dele", Lois protestou.

"Porque quase sempre é!" Chloe esquivou-se. "E ele sabe." E então ela deu de ombros, porque realmente não importava de quem era a culpa. "Além do mais, nós primas, temos que nos apoiar."

À declaração Lois arregalou os olhos. Ela tomou um longo gole de champanhe. "Vamos nos mudar, Chloe."

Ela sentiu como se fosse um soco no estômago. Metaforicamente, mas não menos real. Mudar. Para. Longe.

"Mudar para onde?" ela conseguiu perguntar.

"Sabe, nem eu sei direito. Mas eu vou te avisar quando chegarmos. Dizem que é lindo lá."

Ridículo. E totalmente estranho. Quando ela entrou no baile sentiu como se estivesse entrando num sonho, e de repente tudo virou um universo paralelo onde as palavras saíam da boca de sua prima sem pensar, inacreditáveis, inverossímeis.

"Quem se muda sem saber para onde?" Chloe exclamou.

"Chloe, Clark e eu estamos planejando há muito tempo", Lois disse gentilmente.

Se eles estavam, ela não ficou sabendo de nada, e de repente ela estava com raiva. Segredos. Malditos segredos. Segredos que eram revelados num dia quando parecia que nada podia ser feito. Ela odiava segredos. "Se já estão planejando há muito tempo, porque ainda não se mudaram?"

"Na verdade eu queria ter certeza que você ficaria bem." E Chloe absolutamente odiava que sua prima soasse como se acreditasse que era verdade. Lois e Clark eram as duas pessoas que tinham lhe sobrado.

E Deus, Chloe desejava tanto que ela importasse mais.

E então ela viu. Foi por um breve momento, mas ela viu. Lois olhou por sobre a cabeça de Chloe, bem na direção das sombras, onde Chloe sabia que seu pesadelo a observava. "Agora você está aqui esta noite e tudo vai ficar bem." Um imperceptível aceno de cabeça, talvez aceitação. Lois encontrou seus olhos e disse, "Você vai ficar bem como jamais esteve."

Quando Lois acreditava com tanto fervor, era difícil ficar brava.

"Moramos juntas por tanto tempo, Lois. Você poderia ter me dito, falado comigo. Por que esta noite, Lo?"

Esta noite ela sabia que seus pesadelos estavam tomando vida.

Mas Lois a abraçou com força. Chloe sentiu os lábios de sua prima tocarem sua bochecha, e inexplicavelmente lágrimas surgiram em seus olhos. Quase como se fosse um abraço do qual ela sentia falta, que ela deveria ter tido e nunca teve. Era estúpido, porque elas eram mais carinhosas do que muitas primas que conheciam.  "Você vai saber logo. Lembre-se, Chloe, eu te amo muito." E havia um nó em sua garganta quando ela disse, "Senti sua falta."

Sua cabeça estava girando e o mundo também. Muito champanhe, pouco descanso.

Talvez.

Mas havia aquela sensação em sua nuca, e aqueles olhos castanhos, onde quer que eles estivessem, observavam-na como a escuridão que pairava sobre sua cabeça.

E então Lois balançou a cabeça e deu risada. "O que eu estou dizendo? Eu quis dizer, eu vou sentir sua falta." Lois se afastou, mas segurou suas mãos. "Pode ser que de tempos em tempos você não tenha notícias minhas, ou talvez pareça que eu me esqueci de você, mas acredite, você está em minha mente todos os dias."

Sua prima estava tão sentimental. Ela nunca a viu assim.

Chloe se perguntou como Lois viveria sem ela, se era assim que ela reagia ao fato de se mudar.

"Você é minha irmã", Lois disse.

Lois era muito dramática. Ela estava agindo como se uma delas estivesse morrendo.

"Lois, oh meu Deus!" ela finalmente exclamou. "Eu não acredito que você está falando desse jeito. Você quer me fazer chorar em público!"

"Não, não", Lois disse rapidamente. "Desculpe. Só--Eu sei que você vai ficar bem. E eu estou muito feliz em ter morado nestes últimos anos com você, prima."

E Chloe observou enquanto Lois se afastava a procura de Clark. Ela olhou para trás, meio que esperando um estranho com profundos olhos castanhos estar parado ali, observando-a. Um garçom passou e recolheu a taça vazia de Lois. Ela assentiu em agradecimento, então olhou na direção das sombras acima dela, travando a mandíbula.

Desafiando-o a vir.

Afinal, não importava a ameaça daquele pesadelo, Lois disse que tudo ficaria bem.

Chloe retornou para a exposição, estudou os treze jarros de ouro com hieróglifos que faziam pouco sentido, mas assombrada mesmo assim enquanto os símbolos voavam por sua cabeça. Ísis iria recolher todas as partes de Osíris, disse Lex, e desafiar os maiores deuses, a vida após a morte e todo o inferno.

Tudo para trazer de volta o amor de sua vida.

Que tipo de amor, ela se perguntou, transformava humanos em deuses capazes de fazer coisas tão grandes como as que Ísis fez por Osíris?

As luzes diminuíram no grande salão de apresentação. Chloe olhou para as enormes telas que se alinhavam nas paredes. As palavras eram bastante simples, e um rápido olhar no programa lhe disse que um vídeo da escavação seria exibido na próxima meia hora. Ela se assustou com a presença ao seu lado. Ela olhou para cima e viu as luzes brincando no rosto de Lex enquanto assistia o vídeo ao seu lado.

"Um conto de amor eterno", ele leu em voz alta. Ele olhou para ela com um risinho.

"Você acha que é capaz disso, Lex?" ela perguntou, observando as imagens que documentavam meses intermináveis de poeira e descoberta. Por um breve momento ela teve um vislumbre de quem Lex indicou ser Oliver Queen, mãos na massa, cabeça abaixada enquanto limpava a poeira de um livro.

"Você, de todas as pessoas, sabe exatamente do que eu sou capaz", ele respondeu. Afinal, ela era a única em todo o mundo que sabia de cada ação, cada palavra, cada pensamento - todo o propósito da vida de Lex era se recuperar e derrubar o pai.

Era um entendimento silencioso. Comparado a este objetivo, o resto do mundo não tinha nenhuma importância.

E ela se virou para a tela, observou a jornada que documentava a antiga mitologia de Ísis descendo até a escuridão, sua busca para trazer de volta seu amor.

O vídeo chegou ao final e Chloe ficou assombrada pelas imagens de Oliver Queen parado de costas para a câmera, olhando para as relíquias de Ísis e Osíris, em pé, olhando para a escuridão das pirâmides que fervilhavam de tesouros. O time de escavação ajoelhado e trabalhando fervorosamente para catalogar os tesouros e o homem que financiava toda a aventura segurava em sua mão uma única lâmpada, jogando luz em monumentos deteriorados do deus e da deusa que até então estavam perdidos no tempo.

E a pergunta silenciosa veio como ela esperava. "Você acha que é capaz de tudo isso, Chloe?"

O que foi inesperado para ela foi a resposta que era inexistente até ver a camisa suada e os cortes nos braços do bilionário que havia descido de seus arranha-céus para escavar profundamente os túmulos antigos por um conto que estava quase esquecido.

Acima de tudo no mundo, Chloe Sullivan queria importar.

Se ela importasse para alguém metade do que aquela história importava para Oliver Queen--

Se alguém importasse para ela uma fração do valor que ele tinha dado a Ísis e Osíris--

"Se eu amasse alguém o bastante", ela respondeu verdadeiramente.

Ele se virou para ela, e a silenciosa aceitação falava mais alto do que os alto-falantes que contavam a história das descobertas. Lex assentiu, então olhou para o pulso, onde o relógio de diamantes piscou sob as luzes. "Eu preciso encontrar meu pai em uma hora. Devo esperar por você?"

Era uma saída fácil, e Chloe ficou vermelha por um momento. E então ela olhou na direção de Lois. Ela balançou a cabeça negativamente.

~o~o~

Enquanto vivermos, ou enquanto for uma vida inteira de irritação,
Amor é a onda mais forte de uma sucessão de ondas.

Morte. Ressurreição. Renascimento.

Este poderia ser o slogan do baile; poderia ser o slogan de sua vida.

Shadowcrest ostentava pouco dos luxos que faziam da Mansão Queen a mansão que era, mas havia uma coisa em Shadowcrest que reverteu a decisão de Oliver de esvaziá-la. No escuro da noite, quando Oliver acessava a propriedade por uma possível revenda, tropeçou numa grande biblioteca de tomos e livros, de lendas que se tornaram reais, de mitos que na verdade eram homens. A biblioteca dos Zatara era um tesouro, ele descobriu. Era um refúgio para se perder quando o interesse pelo mundo se perdia na noite.

Acima de tudo no mundo, Oliver Queen queria ter um propósito.

Por muito tempo ele foi um barco sem rumo, sendo jogado de um lado para o outro, de uma direção a outra, numa cabine confortável e quente que o bloqueava do resto do mundo.

"O que você quer, Oliver?"

Cada vez que lhe era feita essa pergunta, Oliver não conseguia dizer uma única coisa que ele queria. Era a mais simples e mais complicada pergunta de todas. Não havia presentes. Presentes eram inapropriados. O que um homem pediria, quando ele tinha meios para conseguir tudo que quisesse na vida?

Acima de tudo, Oliver queria um propósito. Mas não podia ser embrulhado num papel bonito, envolto num laço em um dia especial.

A descoberta do antigo livro de mitologia egípcia, com as laterais repletas de escritos de Giovanni Zatara, o pai de Zatanna, envolveu Oliver. Ele se afogou nas deduções, nas notações que lhe diziam do que magia negra era capaz. Mas Oliver ficou cada vez mais obcecado quando a história enumerou os sacrifícios que Ísis fizera pelo homem que amava. E então ele percebeu a grandiosidade da história, as anedotas que se destacavam em sua descoberta, os fatos que sua mente menos escolarizada sabia de antemão. E durante a descoberta do conto ele reconheceu que havia muito mais que o mundo precisava saber.

Então Oliver Queen tinha um propósito. Ele traria luz à história de Ísis e Osíris e garantiria que o mundo se lembrasse daquele amor eterno.

Na abertura do baile, pareceu a ele que seu propósito havia sido alcançado. Até Lex Luthor, por mais cínico que fosse, ligou pedindo convites para alguém que ele conhecia que estava intrigada pelo conceito. Seu propósito estava alcançado, já que Metrópolis estava maravilhada com a descoberta, com  o sucesso do projeto. Então Oliver foi até o loft e olhou para o salão metade cheio daqueles que estavam curiosos sobre os artefatos e metade pelos que estavam curiosos sobre Oliver Queen.

Meses depois e seu retorno era quase como se Metrópolis não tivesse mudado.

E então ele os ouviu.

Era esquisito. Estranho. Impossível. Mas Oliver jurava que ouviu. Houve uma mudança no ar, um movimento na terra, e por um segundo ele pensou que o tempo tivesse parado.

Os murmúrios foram sumindo e mesmo as respirações pareciam parar entre as batidas de um coração. Oliver jurou ter ouvido passos de uma alma que acabara de chegar, pensou ter sentido um coração batendo no ar, perto o suficiente para conseguir ouvir à distância. Ele se concentrou na multidão, procurando loucamente por algo que parecesse fora de lugar.

Ele agarrou o corrimão e observou enquanto uma cabeça loira se movia pelos artefatos expostos, lendo cada legenda, bebendo a visão de cada objeto como se fosse uma estudiosa de Ísis. Mas a mulher interagiu com repórteres que ele tinha encontrado uma ou duas vezes, falou com Luthor até Oliver perceber quem era a convidada curiosa sobre a história.

E então Oliver notou quando a mulher deslizou pela multidão e caminhou na direção da área isolada e abriu a porta marcada como restrita para a equipe do projeto de escavação, que tinha já ido para casa assim que o baile se provou um sucesso. Oliver desceu os degraus correndo, seguindo a mulher até a seção restrita do museu.

Quando ele chegou a sala onde o time de escavação deixara alguns outros objetos ainda sem legenda nas prateleiras, Oliver viu a loira em uma escada olhando dentro de uma caixa. Luthor estava certo. Sua convidada estava enamorada pelo conto. Tão enamorada que estava certamente quebrando regras suficientes para ser banida do museu para sempre.

"Ei!" ele falou para chamar atenção.

A mulher soltou a caixa e girou rapidamente em surpresa, e os olhos de Oliver arregalaram quando ele viu a escada oscilar. As luzes ao redor deles se apagaram e Oliver ouviu a porta bater atrás dele. A sala estava tomada pela escuridão e ele ouviu um grito abafado e um estrondo.

O gemido que se seguiu garantiu a ele que a mulher estava viva. Ele puxou a porta. Trancada. O blecaute os trancou ali dentro. Pelo menos ele sabia que as descobertas estavam em segurança porque o sistema de segurança funcionava bem.

Ele foi até ela e hesitou por um segundo. Ela ergueu um telefone. "Não tem sinal, mas dá para usar como lanterna", ela arfou. E então ela sibilou. Oliver se ajoelhou em sua frente. Ele rapidamente checou seu calcanhar e o pressionou. As mãos de Oliver atingiram o chão de repente quando uma série de imagens invadiu sua cabeça, e ele respirou fundo.

A sala estava queimando. Não havia ar suficiente. Ele fechou os olhos com força e respirou fundo.

Aos poucos o mundo voltou ao normal. Eles estavam presos na sala de estoque, mas estavam bem.

"Oliver Queen, certo?" ela perguntou.

"Certo", ele respondeu.

"Eu sou Chloe", ela disse a ele, e ele pensou que aquele era o nome mais bonito que já tinha ouvido. "Desculpe surpreendê-la. Eu não poderei me responsabilizar caso você me processe."

"Mas eu não sou exatamente permitida aqui", Chloe respondeu, "então acho que você ficará bem." Ela gemeu quando ele pressionou seu calcanhar. "Não está quebrado, está?"

Com a luz apenas de seus celulares combinados, Oliver inspecionou o dano. "Parece que você machucou um pouco, mas vai ficar bem." Ele se levantou e a ajudou a testar o peso sobre o calcanhar, e então ele sussurrou. "Eu te ajudo."

Ela se segurou nele enquanto se equilibrava. "Dói um pouco, mas não tem nada quebrado", ela disse. E então ela se segurou nele enquanto era ajudada a se sentar. Oliver puxou uma caixa para ela. "Eu espero não estar sentada sobre alguma antiguidade valiosa." Ela fez uma cara. "Ou uma jarra de órgãos mumificados."

Oliver pegou o telefone e leu a legenda. "São tijolos quebrados."

Então ela se sentou e Oliver pôde vê-la sorrir. "O que foi?"

"Não achei que fosse ter a chance de conversar com Oliver Queen", ela disse, "Mas aqui estamos."

E ali estavam.

Oliver engoliu seco. Ele precisava de água. Seu coração estava disparado. Seu coração não reagia assim desde o dia em que Zatanna se aproximou dele em um bar e ali estava ele com uma mulher cujo rosto mal tinha visto, e tudo que podia pensar era em um universo de beijos. Então ele se concentrou em pressionar o polegar no inchaço no calcanhar dela, do acidente que ele mesmo causou.

"Eu sabia que você estaria muito ocupado com todos os convidados, e agora posso dizer que passei mais do que cinco minutos com Oliver Queen", Chloe disse a ele. "Eu não esperava uma conversa, muito menos que fosse dizer que esta noite você é meu herói."

À palavra, o olhar de Oliver foi do calcanhar ao rosto escuro sobre ele. A palavra era--

"Eu não sou herói", ele arfou.

Ela se recostou contra as prateleiras. "Terei que discordar. Eu assisti todo um documentário e vi você trabalhar por algo que acreditava. Eu sei o que você fez para reunir tudo isso. Alguém me falou sobre sua reputação em Star City, mas agora eu sinto como se o conhecesse", ela disse. Seus dedos correndo nos braços dele. Oliver pensou ter sentido um disparo de eletricidade correndo em suas veias.

Oliver soltou o pé e olhou de volta para ela. Seu coração disparado em seus ouvidos. Ela poderia até não ter rosto.

Ele desejava que as luzes voltassem para que pudesse vê-la. Só por um segundo. Seria suficiente para gravar o rosto dela em seu cérebro. 

"Você me fez acreditar no amor", ela confessou. "E se isso não faz de você um herói, então pelo menos ajudar uma estranha que poderia ter quebrado o calcanhar certamente o faz."

Ela estava falando sobre a exposição, ele se lembrou. A escavação inteira fora uma prova de que um amor como o de Ísis e Osíris realmente existia - que não era ficção, ou sonho, ou mentira.

Mas neste momento, Oliver sentiu a névoa que ela trouxe com a proximidade. Ele colocou as mãos em cada lado da caixa onde ela estava sentada e se sentou perto dela na escuridão. Ele fechou os olhos e deitou os lábios sobre os dela. "Talvez eu seja um herói somente para você." E isso foi o bastante. Ela partiu os lábios sob os dele, e Oliver a beijou.

E antes que percebesse, as mãos dele subiram para segurar suas bochechas e ele sentiu as lágrimas nos dedos.

"Por que você está chorando?" ele perguntou.

"Eu não sei", ela respondeu. E então ela passou os braços ao redor dele e o abraçou com força.

Ele passou os braços ao redor dela também e a abraçou com a mesma força. O som em seus ouvidos lentamente desaparecendo.

Eu a conhecerei em qualquer lugar, quando eu acordar. 

"Chloe", o nome voou de seus lábios. O nome fez sentindo como outros nomes não faziam.

Ela não vai te conhecer. 

Ele correu os polegares no rosto dela na escuridão. As lembranças eram confusas, mas partes invadiam sua mente e ele soube exatamente o que precisava. Era por causa dela que ele estava ali.

Seu propósito. Seu único propósito na vida.

E então ele ouviu um longo alarme da segurança. Ele fechou os lábios sobre os dela. A porta se abriu e jogou luz na sala de estoque. Suas bocas se partiram e quando ele levantou a cabeça para beber a visão de seu rosto, ela abriu os olhos e olhou de volta.

Os olhos dela se arregalaram em surpresa, com medo.

"Seus olhos", ela murmurou. "Eu lembro dos seus olhos."

E então ela lutou para se levantar, se afastou apressada e foi até a porta. Oliver chamou seu nome, então correu atrás dela. Mas ela tinha desaparecido, e Lex Luthor também. Ele arfou. Oliver olhou ao redor e viu o museu inteiro, as vitrines, os artefatos, a proclamação do amor imortal.

Fios soltos de lembranças provocavam as bordas de seu cérebro.

________
QUATRO

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12 comentários:

  1. Estou TODA arrepiada!!!!!!
    Que reencontro da Chloe e do Oliver!!!! Tô meio sem ar ainda...

    Gente, a Lois tinha consciência do que havia acontecido na outra vida???? Foi muito lindo o modo como ela se despediu da Chloe... Não sei se tô acompanhando a história direito, huahuahauahau

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    1. Está sim, Ciça, é exatamente isso... A Lois já sabia...

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  2. Ai que lindo, a Lois e o Clar sabiam!!!! Pude até sentir a emoção da Lois, ela foi o próprio leitor dentro da fic, sabendo que uma coisa ótima iria aconter e sem poder contar. Lindo demais!
    E os dois depois, foi perfeito!

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    1. Linda a cena né, Paula. Também adoro esse encontro dos dois. Fique ligada que logo tem mais! Beijos.

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  3. Eu fiquei um pouco confusa com a Lois mas achei tão fofo ^^
    E a parte dela com o Ollie eu queria que durasse pra sempre kkk foi tão linda e Chloe n foge dele pfv!!
    Preciso de mais logo!!!!
    Beijoooo
    Jami

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    1. No começo a gente fica.. A verdade é que ela sabia o que ia acontecer, que ela ia encontrar o Oliver, o amor de sua vida. Não é lindo? A parte dela com o Ollie foi perfeita, linda... É o amor da vida dela, não tem como fugir... :D Sim, mais logo, prometo!!!!

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  4. Oi gente... essa é a segunda vez que comento. Mais ja leio a dois anos... so que nao gosto muito de comentar.... e ezsa bidtoria é cheia de misterios e eu amei....
    Ass: Juliana

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    1. Juliana, obrigada pelo comentário! :DDD Que bom que está gostando, esta história é fantástica na minha opinião, é bom saber que vc também está gostando!!!! :D

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  5. Geeeente!!! OO

    Ok! Lois e Clark têm consciência de tudo o que está pra acontecer, e esperaram por isto... agora, isto me deixou confusa, como eles sabiam? Realmente não consegui entender!! Hahahaha

    Mas, enfim, o fato deles saberem proporcionou essa cena linda da Chloe com a Lois, foi mesmo emocionante!!

    E o reencontro foi de arrepiar: "Era esquisito. Estranho. Impossível. Mas Oliver jurava que ouviu [...] Oliver jurou ter ouvido passos de uma alma que acabara de chegar..."
    Wooooow!!! Incrível!!!

    GIL

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    1. Essa parte da fic que você destacou foi incrível mesmo, Gil!

      Vou até ler a fic mais uma vez para me emocionar novamente :)

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    2. GIL, então, isso não será esclarecido oficialmente, porém, lembra quando a Zatanna vai atender o pedido do Oliver? Ela avisa que outras pessoas que pediram uma segunda chance estariam lá? Então penso que todo mundo que precisava dessa segunda chance, Clark, Lois, Lex foram colocados nesta realidade ou nova vida, porque ela diz que só poderá fazer esse tipo de feitiço uma vez, então foi o que entendi...

      E meu Deus, essa passagem é fantástica, gosto muito também quando eles dizem que a presença do outro faz com que pensem num universo de beijos... lindo... e mais romântico impossível!!!

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    3. Faz todo sentido, Sofia!

      Muito lindo e romântico, né, meninas?! Sim, também adoro e menção ao universo de beijos, aiai!! *-*

      GIL

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