11.1.11

LEGENDS: This Is How Mia Returned

Nota da Autora: A Lenda desta vez é Mia. A situação em que ela se encontra nesta história é a mesma que Speedy vive nos quadrinhos.
TítuloÉ Assim Que Mia Retorna
Autora: tennysonslady
Classificação: PG-13

Histórias anteriores:
This Is How Hearts Soar



Não era sempre que ela acordava com um sorriso no rosto. Quando ela era criança, ansiosa para ir pra escola e ver sua paixão, Chloe sempre acordava com um grande sorriso que ela levava para o café da manhã e deixava seu pai satisfeito. Quando ela virou uma jovem mulher, o sorriso de Chloe foi desaparecendo a cada acontecimento esquisito ou estranho em sua vida. Ela acordou com um grande sorriso no rosto no dia de seu casamento há muito tempo atrás e parou de sorrir no dia que enterrou o triste homem que Jimmy havia se tornado.

Mesmo quando ela e Oliver estavam felizes -- em seu fim de semana fora da cidade -- Chloe acordou pensativa nos braços de Oliver. Naquela vez seu corpo estava lânguido e a emoção dessa nova ligação queimava em suas veias. Ele tinha acordado e conseguido tirar a preocupação de seu rosto, conseguido um sorriso dela com um toque carinhoso e um elogio murmurado.

Quando Chloe voltou para Oliver, e ele professou o amor imortal que não era justo com a mulher com quem ele havia se casado, e eles dividiram a cama mesmo com suas reservas, Chloe acordou com a sombria sensação de que aquela felicidade custaria um lar destruído.

Quando eles se casaram -- mesmo quando ela tinha certeza que Dinah sobreviveria e Connor continuaria a fazer parte de suas vidas -- Oliver arrancou um sorriso de seu rosto enquanto os dois evitavam falar sobre os anos e o bebê que estavam perdidos nos bolsos do tempo e do universo.

No entanto, desde aquela ida ao hospital, Chloe não podia evitar um sorriso bobo que agraciava seus lábios toda vez que ela acordava. Ela sentia uma alegria sem fim que a fazia levantar toda manhã exibindo aquele grande sorriso que brilhava mesmo na escuridão que estava às quatro da manhã. Ela achava espetacular ter que correr para o banheiro e se jogar na frente do vaso, vomitar tudo o que estava em seu estômago como se não houvesse amanhã, e ainda se levantar e ver seu reflexo pálido em vários tons de verde e ainda assim conseguir sorrir.

Ela estava grávida.

Ela estava grávida de gêmeos.

Ela estava grávida de gêmeos do Oliver.

Chloe viu quando Oliver empurrou os lençóis e vestiu a calça de moletom, com a cintura abaixo do quadril. Ele olhou pra ela claramente preocupado. E Chloe se inclinou sobre a pia e continuou sua manhã miserável com o que ela sabia que eram horríveis barulhos nojentos. Ela estava feliz que Connor estivesse dormindo novamente com Dinah porque ela tinha certeza que teria assustado o garoto. Oliver correu uma mão em suas costas e Chloe gratamente aceitou o copo com água que ele lhe passou.

Ela tinha tudo agora -- tudo. Ela tinha um marido que ninguém no mundo fazia ideia, um homem que a amava tanto que tinha um casamento infeliz e uma foto ao lado de um túmulo tirada sem autorização como testemunhas. E ela estava tendo os filhos que eles tinham medo que nunca pudessem ter.

Só faltava uma coisa para preencher o vazio que ela sentia há algum tempo. Era o que tinha preenchido sua vida antes de Oliver ou qualquer outro homem que tenha importado alguma vez.

"Eu quero transferir a Watchtower oficialmente para Star City", ela disse a Oliver, e apesar do rápido sinal de ansiedade na testa dela, ela sabia que logo teria o que queria.

Chloe olhou de novo para sua imagem no espelho, com Oliver parado atrás dela com o braços envolvidos em sua cintura. Sua testa estava franzida. Ela queria alcançar e desfazer a preocupação. Ela não o fez. Ao invés disso, ela colocou a mão sobre seus braços e correu os polegares sobre seu pulso.

"O que fazemos é perigoso", ele falou gentilmente, como se ela precisasse de um lembrete.

"Eu fiz isso durante anos." Mesmo antes de conhecê-lo. Mas ela não precisava mencionar isso. "Eu sei muito bem do perigo."

Ela percebeu o jeito quase imperceptível que ele apertou os braços ao redor dela. "Eu preferia que você ficasse em casa, mas eu te conheço o suficiente pra saber que eu não posso te convencer a fazer o que não quer."

Em sua mente as palavras dele a levaram de volta para uma noite onde ela estava vendada, e ele também como ela descobriu depois. Ela lembrava das mãos ásperas a empurrando, vividamente sentindo as poças de água fria quando atingiam seu calcanhar enquanto ela caminhava para fazer a troca. Na história de suas vidas essa seria sua grande traição pra ele, e ao mesmo tempo o maior ato de amor que podia demonstrar.
Simplesmente porque ela tomou a decisão sem ele saber.

"Ser Watchtower é mais seguro do que esperar em casa pelo Arqueiro Verde", ela o relembrou. Ele colocava a vida em risco todas as noites quando colocava aquele uniforme, e ela não pediu -- nenhuma vez -- que ele pendurasse as calças coladas. "Vai me ajudar a controlar qualquer paranóia que possa surgir." Ele tinha a perder tanto quanto ela. "Quando você está lá fora, eu quero saber que estou te protegendo o máximo que eu posso." Ela não era uma esposa comum que ficava a salvo e confortável -- não quando ele se colocava em perigo. Ela não ia ficar lá parada. Mas ele sabia disso. E então, como se fosse uma batalha conseguir dizer, ela sentiu a garganta expor a insegurança. "Eu não quero criar os gêmeos sozinha."
Se ser a Watchtower ia tranquilizá-la, ainda que só um pouco, ela sabia que ele ia concordar.

"Além do mais, se Victor configurar tudo corretamente então a Watchtower será mais segura que o Pentágono."

Ele suspirou pesarosamente atrás dela. Ela olhou para a pia e seu olhar viajou pelos vidros de perfumes e cremes que estavam alinhados do seu lado. Era um movimento inútil, mas ela não ia olhar nos olhos dele quando ele negasse o simples pedido. Oliver tinha seu trabalho, tanto a companhia quanto o de Arqueiro Verde. Ela não ia culpá-lo pelo que ele achava que precisava fazer para garantir sua segurança.
Afinal, da última vez que ela tomou uma decisão pelos dois ela perdeu--

Ela balançou a cabeça. "Oliver--"

"Tá bom", ele concordou.

Ela esperava ficar em êxtase, mas a derrota na voz dele permitiu apenas uma palavra. "Obrigada", ela respondeu. Porque ela precisava deste controle, precisava ter esse poder. E ela o amava ainda mais por sua compreensão.

Quando ele se ofereceu para levá-la até a sede ela não recusou, porque ela sabia muito bem que algumas vezes as coisas que ele dizia que ela precisava, na verdade eram garantias que ele queria. No carro ele pegou sua mão, e entrelaçou os dedos. Ela beijou seu rosto e o canto de seus lábios.

Só por beijar.

Era quase como se os cinco anos separados não importassem. Porque agora eles tinham tudo.

"Te vejo no almoço", ele disse a ela. E ele tinha que voltar para as reuniões mas eles iam cumprir o horário para evitar o terror que ele sentiu quando ela teve que levar Connor às pressas para o hospital depois de Oliver ter perdido o almoço com eles. Levemente ele acrescentou, "Eu tenho que garantir que você não esteja deixando as crianças com fome e afogando-as em cafeína."

Ela deveria se sentir insultada, mas Chloe sabia que era uma tendência natural quando estava envolvida com o trabalho. Então ela só respondeu. "Acho que vou querer calzone."

"Bastante queijo?"

"Explodindo de tanto queijo", ela respondeu. Ela pensou melhor, maravilhada com as sensações que se formavam em sua boca. "E pimentão verde." Ela gemeu no fundo da garganta. "Garanta que tenha um monte de pimentão crocante."

E então ele piscou, a relembrando do brincalhão embora problemático bilionário que estampava as capas das revistas -- aquela criatura inocentemente sem-vergonha que ele era antes de ir para Smallville. Ele ainda poderia ser, quando os problemas desaparecessem. Ele podia ser aquela pessoa despreocupada que certa vez construiu seus futuros. "Eu ainda vou te engordar."

O comentário a fez dar risada, simplesmente porque ela tinha durante muito tempo desejado e invejado ter o corpo das mulheres que ela mais gostava. Mas ela nunca ia ser Lois ou Lana, e por alguma razão ele olhava pra ela como se ela não tivesse que se preocupar com isso novamente. Sua mão carinhosa deslizou sobre sua barriga, e ela pensou, que no momento era só isso que importava pra eles.

"Você sabe que mulheres grávidas também precisam controlar o peso", ela disse.

Ela piscou e sorriu com o fato da palavra ter saído tão facilmente de sua boca. Tão simples, tão natural.

Da primeira vez que ela tinha passado por isso, ela tinha sofrido com a descoberta. Sob o ataque de violentos chutes e tortura quando ela tinha acabado de descobrir que teria um bebê. Tão logo descobriu, de repente--

Tinha perdido.

Ele era Oliver, e mesmo sem falar nada ele sabia o que ela estava pensando, porque a próxima coisa que ela sabia era que o rosto dele estava colado ao dela e ela sentiu o familiar roçar de narizes. "Volta", foi o suave pedido. E ela segurou as lágrimas que embaçavam sua visão. Era um pecado ter a visão de Oliver impedida. "Chegamos", ele disse.

Chloe assentiu, então se endireitou e respirou fundo. "Então é aqui que eu desço", ela suspirou.

Ela desceu do carro, e os dois se demoraram na porta da sede por mais alguns segundos. Com as mãos descansando nos quadris dela, Chloe pressionou seu corpo contra o dele. O dia seria interminável, mas ela estava de volta agora e suas vidas precisavam ser retomadas. Eles precisavam seguir em frente. Ela olhou para o prédio que Oliver e Victor tinham disfarçado como fundação de caridade, completando com um tapete verde de boas-vindas no alpendre.

"Eu achei que ninguém ia questionar o fato da Sra. Queen trabalhar numa fundação, especialmente com o histórico filantrópico da Queen Industries", Oliver disse a ela.

Ela provavelmente teria disfarçado com a fachada de um jornal ou de uma revista, seu sonho de infância, mas embora a inteligência de Chloe na maioria das coisas excedesse a do marido, ela não podia negar que ela tinha um minúsculo conhecimento de como o mundo funcionava em comparação a Oliver.

"Eu teria escolhido alguma coisa relacionada a imprensa", ele disse, "mas aí as pessoas iam perguntar sobre o produto quando não vissem nenhum número sendo publicado."

Ela sorriu, então assentiu. Chloe aceitou o beijo. Um flash de luz no canto chamou sua atenção. Ela se virou e percebeu um homem com uma câmera apontada pra eles.

"Isso não vai durar muito tempo", Oliver assegurou.

Chloe observou enquanto Oliver assentia na direção do intruso, então levantou a mão e deu um curto aceno. "Eu espero. Não tem nada mais desinteressante do que um homem casado levar sua mulher para o trabalho."

Oliver deu risada. "O jovem administrador executivo da maior corporação da cidade que recentemente se divorciou e se casou secretamente com uma mulher praticamente desconhecida. Eu acho que a situação tem gás pra durar ainda mais umas semanas."

"Nestas poucas semanas minha barriga vai começar a aparecer", Chloe percebeu. Eles não iam deixá-la sozinha nem tão cedo, não até perceber que não tinha mais nada a ser noticiado sobre o casamento de Oliver com uma estranha.

Chloe viu dentro de segundos mais quatro homens correrem na direção deles. Ela respirou fundo para se acalmar. Inconscientemente deu alguns passos pra trás.

Da última vez que homens estranhos vieram em sua direção, ela acabou engolindo pilulas com veneno.

"Chloe", ele falou suavemente. E tudo o que ela tinha que fazer era olhar pra ele. Ela ergueu o queixo, porque isso era uma coisa da qual ela não se envergonhava. Ela não iria se sentir fraca ou desamparada no dia que sua vida estava voltando para o lugar. "Quatro metros", ele disse simplesmente. Quatro metros de distância era o máximo que algum deles se aproximaria dela.

Para seu espanto, os fotógrafos mantiveram a distância. Até ela perceber os seguranças que a guardavam quando ela saía com Connor.

"Eu já te disse hoje o quanto eu te amo?"

"Uma ou duas vezes."

"Oh", ela disse com um sorriso. "Isso deve ser suficiente até o almoço."

"Chloe."

Então ela passou os braços ao redor dele e sussurrou em seu ouvido. "Eu te amo, Ollie."

E ele retribuiu as palavras, beijando-a até ela sentir os dedos se curvarem dentro do sapato. Chloe entrou na sede e observou ao redor para o requintado e simples mobiliário na frente do escritório. Atrás da porta fechada ela reconheceu o moderno equipamento que havia sido instalado. Ao invés de proceder imediatamente como Watchtower, Chloe caminhou na direção da mesa e sentou girando na cadeira.
Ela correu os dedos sobre a mesa de madeira.

Essa seria uma boa pausa entre as missões. Chloe puxou o laptop para perto dela e se encontrou navegando na internet, de um site para o outro, olhando berços e roupinhas de bebê ao invés de começar a trabalhar na Watchtower. Ela olhou para a hora no canto do monitor e percebeu que já tinha perdido duas horas.
Se seu chefe não fosse seu marido isso provavelmente terminaria mal.

A campainha da porta tocou, e Chloe fechou o laptop. Ela esperava ter que receber doadores uma ou duas vezes mas não esperava ninguém no primeiro dia. Ela olhou pra cima com um sorriso, que ficou ainda maior quando ela reconheceu quem era.

"Mia", ela cumprimentou. Chloe se levantou da cadeira e abraçou a rebelde sob responsabilidade de Oliver, então a levou para o sofá dentro da sua sala. "O que você achou?"

Mia sorriu e olhou ao redor. Ela assentiu em apreciação. "Ninguém vai desconfiar."

"Tinha que parecer real", Chloe disse concordando. "Eles fizeram um bom trabalho." A jovem disfarçadamente se afastou um pouco quando Chloe sentou ao lado dela. Chloe franziu a testa. Oliver tinha mencionado que Mia parecia estar com algum problema, mas Chloe estava tão envolvida com a gravidez e Connor desde o hospital que não tinha tido a chance de observar Mia com atenção. Agora ela percebia os sinais de um peso nos ombros dela. Chloe mesma tinha carregado fardos desde criança e era fácil reconhecer os sinais. "Você ficou sabendo que vai ser tia?"

Claro que sabia. Ela estava lá.

Chloe balançou a cabeça. "Alguma coisa errada, Mia?"

A jovem engoliu em seco. Ela olhou para as próprias mãos, e Chloe percebeu que ela tinha pintado as unhas de azul escuro. "Então Oliver deve estar na lua de tanta felicidade com os bebês", Mia começou. Chloe sorriu. Ela sabia diariamente como Oliver se sentia com a gravidez. Ela estava feliz que Oliver compartilhasse isso com Mia. "Ele me disse que já que eu estou de volta, eu deveria ficar por perto pra ajudar. Com Connor nos fins de semana e com você já que gêmeos dão muito trabalho."

Até agora Oliver tinha sido completamente prestativo e ela não podia imaginá-lo sendo menos que isso quando os bebês chegassem. Chloe suspeitou que o pedido tinha mais a ver com Mia do que com Oliver ou Chloe. "Eu acho que é uma ótima ideia, Mia." A manteria por perto. Chloe sabia o quanto Oliver queria ficar perto de Mia, para garantir que ela estivesse livre da vida que Oliver a tinha salvo quando era uma adolescente. "Especialmente agora que Connor parece querer sempre ser carregado nos braços." Era uma fase, uma que começou quando ela ficou doente. E agora não tinha um fim de semana em que Connor não pedisse pra ser carregado no colo quando eles saíam.

Com um sentimento triste, Chloe percebeu que era exatamente com isso que Mia estava preocupada.

"Olha, eu não queria dizer nada", Mia começou. "Eu queria passar e ver como Oliver estava porque eu achei que devia a ele uma visita por tudo que ele fez por mim. Mas se vocês dois querem que eu passe tempo com seus filhos, tem uma coisa que vocês precisam saber."

O olhar em seu rosto partiu o coração de Chloe. Ela estendeu a mão para pegar a mão de Mia, mas ela se afastou.

"Eu estou doente", Mia confessou.

Chloe franziu as sobrancelhas. "Doente", ela repetiu. "Oliver tem todos os recursos do mundo. Ele pode dar um jeito em qualquer coisa." Realisticamente, a promessa era tão errada. Havia muitas coisas no mundo que o dinheiro não podia comprar. "Mia, deixe o Oliver saber e ele vai fazer tudo o que for possível."

"Eu sou HIV positiva", Mia sussurrou. Chloe relembrou a história que Oliver havia lhe contado, sobre onde encontrou Mia. Drogas e prostituição, nas ruas. Chloe engoliu em seco. "Oliver não tem como arrumar isso, e não seria justo eu esperar que ele pudesse fazer alguma coisa, porque ele vai querer dar um jeito, Chloe. Mas ele não pode."

Chloe piscou olhando para a jovem. Mia parecia tão fria, pra dizer a verdade. Era estranho. Ela lambeu os lábios. Ela não tinha ideia de há quanto tempo Mia sabia disso, mas ela percebeu que Mia agora estava mais preocupada com Oliver.

"Como você pode estar bem com isso?" Chloe suspirou.

Mia retornou um frio e fino sorriso, então disse. "O que faz você pensar que eu estou?" E então, antes que Chloe pudesse responder, Mia continuou. "Eu não estou. E estou." Ela deu de ombros. "Eu sei o que eu era, onde eu estava quando Oliver me encontrou. Eu só -- faz um tempo. Eu aprendi a viver com isso."

Ela olhou pra longe, e Chloe queria abraçá-la mas sabia que só ia acabar afastando-a.

"Então eu fui egoísta quando eu vi na imprensa que ele estava tão feliz. Ele não dava um sorriso verdadeiro há muito tempo." Mia engoliu em seco. Ela olhou de volta para Chloe, então disse. "Eu devia saber que era por sua causa."

"Mia--"

"Eu não vim falar sobre mim. Mas eu voltei porque eu sentia falta de Oliver, e parecia que ele estava finalmente de volta. Eu sou uma adulta responsável agora." Mas o sorriso tímido que brilhou em seu rosto dizia a Chloe que ela ainda tinha muito daquela adolescente. "Eu vou contar pra ele porque ele confia Connor comigo."

"Conta pra ele", Chloe concordou. Essa era a irmã que Oliver não teve, a filha pela qual ele se responsabilizou bem antes do conceito de ter um filho surgir em sua vida.

"Depois de Doomsday -- quando tudo ficou uma bagunça, ele também ficou. Ele afundou, Chloe. Você sabe. Você tirou ele dessa." Chloe respirou fundo, lembrando o fundo do poço em que Oliver tinha chegado. E quando ela imaginou que jamais o veria daquele jeito novamente... Mia continuou. "Então você morreu e todos nós o perdemos. Eu tenho medo de contar pra ele. Você sabe o que ele pode fazer."
Álcool, drogas, depressão, auto-destruição.

Mas naqueles dois momentos, ela não estava por perto. Eles não estavam casados ou formando uma família.
"Conte pra ele", Chloe decidiu. "Ele merece saber."

Mia franziu a testa. "E se o perdermos de novo?"

"Não vamos."

Pelo menos, Chloe imaginou que eles estavam mais fortes agora, que tinham uma razão para viver, que ela tinha o suficiente para fazê-lo suportar.

"Ele não é o mesmo homem, Mia." Mia se levantou, então assentiu. Chloe se levantou e perguntou. "Você quer que eu vá com você?"

Era uma coisa que Mia precisava fazer sozinha.

Mia caminhou para a porta e Chloe a seguiu de perto. Quando Mia estendeu a mão para a porta, ela se virou para Chloe e falou baixinho. "Escuta." Chloe deu um passo a mais para ouvir. "Agora que você sabe... Eu vou entender se você e Oliver quiserem que eu fique longe. Eu digo, vocês têm Connor. Você está grávida."

"O quê?" Chloe arfou incrédula. "Não."

Mia balançou a cabeça. "Depois que eu contar ao Oliver, vocês dois tem que conversar sobre isso. Chloe, eu entendo. Você não precisa sentir que tem alguma obrigação comigo. Oliver me salvou o suficiente quando me tirou das ruas."

Mia lhe deu um pequeno sorriso. Chloe observou a porta se fechar. Ela balançou a cabeça. Aquilo não era suficiente. Chloe estreitou os olhos. Mia precisava ter mais confiança. Chloe abriu a porta e viu Mia se afastando.

Havia uma razão para Oliver chamá-la de Speedy. Chloe correu atrás da jovem. Ela chamou seu nome. Mia parou e se virou.

Chloe arfou e respirou fundo. "Eu não preciso esperar para falar com Oliver para garantir que nós não queremos você longe de nossa família. Mia, você é família para o Oliver e por extensão, minha também." Quando Mia sorriu, Chloe se aproximou. Ela passou os braços ao redor dela.

Havia muitas coisas tristes no mundo. A infância de Mia havia sido uma delas. Mas ela ainda podia fazer parte da infância que ela e Oliver dariam a seus filhos.

"É de verdade que eu digo que você vai ser tia, Mia", ela assegurou a garota. "Agora vá conversar com Oliver."

Chloe observou Mia se virar e recomeçar a andar. Quantos anos Mia tinha agora, ela imaginou. Ela era uma adolescente quando ela partiu, então significa que devia ter acabado de passar dos vinte. Era tão injusto, mas Mia estava certa. Oliver a tinha salvo das ruas. Isso era mais do que suficiente. Quando Oliver fosse até ela, e ela esperava que ele confiasse o suficiente no casamento deles para ir atrás dela depois, ela ia se agarrar a essa verdade até Oliver entender que apesar de tudo o que ele fez, não tinha mais nada que ele pudesse ter feito para mudar isso.

Ela ia esperar perto do telefone, esperar pelo menos até que Mia pudesse falar com ele. Essa era uma conversa que Oliver precisava ter sozinho.

"Mia!" Chloe chamou a garota.

Quando Mia se virou, e seu cabelo bateu nos ombros, Chloe percebeu o quanto ela ainda era jovem. Ela levou uma mão atá a barriga e a deixou ali.

"Me liga depois. Eu quero saber como foi."

Mia assentiu brevemente.

Chloe voltou para o prédio lentamente. Não estava sentindo o cansaço que tinha sido alertada, mas mesmo enquanto seu sangue corria depressa, e seu coração estava disparado por causa da revelação. Ainda assim, ela voltou devagar enquanto processava a informação que Mia havia compartilhado. Seu coração doía com o pensamento.

Talvez uma das muitas pessoas com as quais ela tenha trabalhado na Ísis  Talvez alguém do outro lado. Não precisava ser necessariamente um meta-humano do lado deles. Qualquer um.

Talvez ela precisasse de alguém que pudesse ajudá-la a recuperar a habilidade de cura que estava dormente dentro dela desde Brainiac.

Chloe balançou a cabeça. Ela tinha que seguir em frente, construir uma família.

Mas Mia era família. Ela era a família de Oliver antes de Chloe pensar em fazer parte.

Chloe voltou para a sede e pegou o telefone. Ela atravessou as portas para os computadores poderosos que a rodeavam. As máquinas ligaram, e por um segundo Chloe sentiu-se sobrecarregada com a situação. Ela respirou fundo, então levou o telefone ao ouvido.

"Eu ouvi dizer que você ajudou os rapazes uma ou duas vezes", ela disse.

A voz de Tess foi fria e repleta de humor quando respondeu. "De volta dos mortos e prestes a me pedir um favor sem a menor dificuldade."

Chloe suprimiu um inesperado sorriso. Todo mundo pisava em ovos quando encontrava com Chloe pela primeira vez, especialmente aqueles que sabiam a situação que cercava seu desaparecimento. Se ela tinha se tornado um membro tão valioso como Chloe acreditava, Clark havia lhe dado alguma ideia sobre as coisas de Chloe. Ela deveria esperar mais do que dó ou desconforto de Tess. Era bom. Ela gostou da casual provocação.

"Você esperava que eu mudasse, Tess?"

Chloe podia quase ouvir a outra mulher erguer as sobrancelhas. "Eu não esperava um contato seu, especialmente quando você está tentando voltar para a casa da árvore."

"Eu não vou tirar nada de você. O mundo é grande o suficiente."

"Então você ligou para pedir um favor. Vamos ter essa conversa em vídeo", Tess sugeriu. "Eu quero ver seu rosto quando você estiver me pedindo um favor, Srta. Sullivan."

Chloe sorriu, então desligou o telefone. Ela abriu o vídeo e viu Tess Mercer perto da tela. "Vá um pouco pra trás ou vou achar que você está tentando me assustar." A visão do rosto da mulher era suficiente para quase despertar meia década de hostilidade e desconfiança, mas por outro lado Chloe reconhecia o quanto isso era pequeno diante do problema que ela agora queria resolver. Mas ela também era uma garota. Ela não podia evitar que as palavras escapassem de sua boca. "E eu tenho certeza que você deve ter ouvido, mas é Sra. Queen agora."

Tess retornou com, "Eu devia saber que você ia usar o nome dele. Quão retrógrado isso é pra você, Sra. Queen." Tess recostou-se contra o assento, sem se afetar pela provocação. "Agora vá em frente e me peça o favor. Estou morrendo pra ver como você vai fazer."

Chloe cruzou os braços sobre o peito e olhou para a câmera. "Eu preciso que você olhe nos arquivos de Lex e tente descobrir se ele fez alguma experiência com alguém que pode curar pessoas."

Tess ergueu as sobrancelhas. "Um milagreiro?"

"Lex deve ter encontrado um ou dois meta-humanos que podem fazer isso." Ela sendo um deles não precisava ser mencionada até Tess encontrar as evidências. "Eu preciso dos nomes e localização. Além disso, Lex talvez tenha informações sobre como recuperar habilidades que tenham sido perdidas."

Tess não respondeu por um longo tempo, mas Chloe viu os olhos de Tess brilharem, como se ela estivesse tentando decifrá-la. Finalmente, Tess disse, "Quando eles montaram a Watchtower de Star City eles me garantiram que você ia apenas guiar missões, não se envolver em nada perigoso como um documento da LuthorCorp."

"Eu não estou pesquisando Lex", Chloe pressionou. "Eu só preciso da informação, Tess. Você pode fazer isso por mim?"

Tess assentiu lentamente. "Se é assim que você pede favores, não estou impressionada."

Chloe deu uma pequena risada, então encerrou a ligação.

Chloe voltou ao trabalho procurando informações ela mesma enquanto invadia seu próprio sistema em Metrópolis. Victor não tinha conectado os servidores de Star City com a base de dados original, e Chloe ficou surpresa que ele nem tenha se preocupado com isso quando todo mundo sabia que ela podia invadir facilmente.

O discreto bip foi seguido por outro. Chloe pegou o telefone e viu uma mensagem que simplesmente a avisava que Oliver estava mandando o carro buscá-la mais cedo naquela tarde e que ela podia ir direto pra casa. A seguinte foi, como esperado, Mia lhe dizendo que já tinham conversado.

Era fácil rastrear os passos de Oliver. No momento em que Chloe entrou no carro ela pediu que o motorista a levasse para a última parada do Sr. Queen. O motorista simplesmente assentiu e a levou para um hotel no centro da cidade. Ela não se importava que o carro preto a seguisse de perto apesar da mudança no trajeto.
Ela entrou no hotel e cruzou o lobby. O bar ficava depois de um lance de escadas. Por um breve momento ela parou no degrau mais alto e percebeu que não tinha comido nada no almoço. Chloe lentamente desceu a escada. Ela estava no meio quando viu a figura de seu marido debruçada no bar se virar. Chloe se certificou de olhar dentro dos olhos dele quando eles se arregalassem surpresos por sua presença.

Ele se levantou, e Chloe viu o uísque intocado diante dele. Ela esperava que não fosse uma nova dose.

"Chloe", ele falou baixinho quando ela parou na frente dele. "Eu achei que ia te encontrar em casa." Os olhos dele estavam vermelhos, e quando ela se inclinou ficou aliviada em não sentir cheiro da bebida. Mia tinha feito ele correr direto para o bar.

"Você esqueceu de pedir ao motorista pra me levar calzone." Chloe acenou com a cabeça na direção do uísque. "Você está planejando ficar bêbado antes de encontrar sua mulher?" ela perguntou gentilmente. Ela não precisava imaginar as emoções preocupadas que estavam dentro dele. Ela podia ver a batalha atrás de seus olhos.

"Essa bebida está intocada por causa da minha mulher", ele falou baixinho.

Ela estava frustrada, chocada, triste pela revelação de Mia. Mas foi a simples declaração de Oliver, seguida pela determinação com que ele descansou a testa na dela, que trouxe lágrimas aos seus olhos.

Mia estava errada. Ele não ia afundar. Não dessa vez.

Mesmo se ela tivesse que usar o argumento que tinha imaginado.

Ela piscou, e Chloe adorava o jeito que as mãos dele seguravam seu rosto, como seus polegares acariciavam seu rosto. Ela confessou. "Eu não gosto disso, Oliver. Eu não gosto que você tenha um problema e me deixe de lado e eu tenha que encontrar você num bar." Ela respirou tremulamente. "Eu não gosto que você não tenha vindo até mim e me contado o que você está sentindo."

Oliver fechou os olhos, e eles ficaram ali, do lado do bar na relativa privacidade de um hotel exclusivo. Mesmo nessa exclusividade Chloe sentia o quanto estavam expostos.

Deve ter sido a bebida que estava ali, a insultando, quando tinha sido ela quem tinha tirado ele desses vícios há muito tempo atrás.

"Você sabe o quanto eu te amo?" ele sussurrou. Ela assentiu. Mesmo se ele não pudesse ver, ele podia sentir. "Você sabe da Mia?" ele perguntou, olhando nos olhos dela dessa vez. Novamente, ela assentiu. "O que eu estou sentindo agora... eu não consigo falar sobre isso porque eu não consigo nem pensar numa única palavra que descreva, ainda mais ter uma conversa inteira com você."

Chloe mordeu o lábio, então ela passou os braços ao redor dele. "Nós não precisamos conversar. Mas eu preciso que você volte pra casa comigo. Você vem pra mim, não pra lugares como este."

Ela entrelaçou os dedos nos dele e segurou seu braço, afastando-o do bar e em direção à escada.

"Eu não ia beber."

"Ótimo", ela disse suavemente. "Se você insistisse eu teria que te acompanhar, gole a gole, copo a copo. Se você estivesse planejando ficar bêbado, eu teria que ficar bêbada junto com você."

Ela sentiu ele dar um beijo em sua têmpora. "Você está grávida", ele pontuou.

"Exatamente", ela disse. "Você não está feliz que eu não tenha te encontrado bêbado?" Ele lhe deu um sorriso, como se não soubesse se era uma piada ou uma ameaça. Chloe lhe deu um breve sorriso, então respirou fundo. Às vezes, mesmo a leveza era o fardo mais pesado de todos. Ela segurou a mão dele com mais força até seu anel tocar a pele dele. Ela esperava que o metal o machucasse, um lembrete forçado de que eles estavam ligados agora. "Tudo vai ficar melhor, Ollie. Você vai ver. Ela é família. Nós vamos dar um jeito."

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LEGENDS: This Is How They Choose

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3 comentários:

  1. A situação da mia é mesmo triste ...
    Mas sem nos focarmos na doença dela o fato é que eu até tento , mas não consigo ter a menor simpatia por essa garota

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  2. bom, eu passei a gostar um pouco mais da Mia pela forma como ela é descrita em moving targets, mas não pelo show... em smallville, realmente não dá... mas fiquei com dó dela...

    Lu

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