2.3.12

And Now My Dreams Are Nothing Like They Were Meant To Be

Título: E Agora Meus Sonhos Não São Como Costumavam Ser
Resumo: Explica alguns acontecimentos de Conspiracy e um pouco do que acontece na mente de Chloe e as razões para ela fazer o que faz.
Autora: serenitysea




Ela raramente dorme.

Ela não confia nas pessoas.

Ela é a Watchtower e a Watchtower é ela.

E isso não é um exagero.

***

Algumas vezes ela sonha.

(Os sonhos são normalmente abastecidos pelas noites que passa sozinha e espanta as dúvidas e medos com álcool. Ela tropeça até a cama porque tem que dormir, porque se conhece bem o suficiente para saber que precisa desligar se quiser voltar a funcionar novamente e não se lembra de nada de manhã.)

A primeira vez que viu Lex, foi o suficiente para lutar contra a bebida e se jogar no mundo real.

Na vez seguinte, tinha muito o que fazer do que só ficar parada.

Ela decidiu ouvir o que ele tinha a dizer. Afinal, não conseguia exatamente escapar.

(Ela odeia isso.)

***

"Então você pegou meus arquivos particulares."

"Por favor, Lex. Eu entrei no seu sistema bem antes disso e nós dois sabemos. Assim que você morreu, esses arquivos se tornaram de domínio público. Você deveria estar agradecido que eu tenha pego ao invés de algum psicopata querendo destruir o mundo."

Ele ainda a agracia com aquele meio sorriso que sempre dava e a faz sentir como se ele soubesse mais sobre ela do que ela estaria confortável. Como se ele conhecesse todos os piores segredos e verdades que ela esconde.

"Qualquer coisa que te ajude a dormir à noite, Chloe."

Esse seria o momento onde ela sairia de seu escritório (porque de algum jeito eles estão no escritório dele de volta àquele mausoléu em Smallville com todas as evidências de Tess Mercer erradicadas) e bateria a porta.

Mas ela não consegue sair até que ele deixe.

(Algumas coisas nunca mudam.)

"Diga a Oliver que eu disse oi." Lex não sorri desta vez mas quando o escritório desaparece, ela não está exatamente reclamando.

***

Oliver não parece perceber seus estranhos hábitos noturnos.

Ele é um heroi, afinal. Ele trabalha melhor à noite, com sua voz o guiando através das armadilhas e labirintos da depravação humana em todas as suas formas. O bem-estar de Metrópolis e a ameaça kandoriana consomem muito de sua atenção, deixando a Liga e a Queen Industries consumirem o resto.

Ela não se importa, de verdade.

A falta de atenção dele significa que há uma desculpa a menos para fabricar.

Já que ela genuinamente gosta de Oliver, isso funciona para o melhor.

E ainda assim ela sonha.

***


"Eu jamais pensaria em você como um tipo calculista, Chloe. Eu sabia que as coisas estavam ruins, mas... armas kriptonianas? Você escalou novos níveis de ambiguidade moral. Como você explicou isso para o Homem de Verde?"

Isso deveria perturbá-la, que Lex conhecesse a identidade secreta de Oliver, mas por alguma razão, não perturba. Talvez porque os dois saibam quem riu no final do último confronto entre os dois, por assim dizer.

Ele ergueu as mãos em rendição e caminhou até ela até estarem lado a lado, do jeito que costumavam ficar quando ela colocou a vida nas mãos dele e confiou que ele a protegesse contra o pior que o pai dele pudesse fazer.

"Eu não escolheria outra pessoa para continuar meu trabalho. Saber que seria você me deixa muito satisfeito. Eu sei que vai ser completado. Que vai haver um fim nessa loucura que Clark tenta resolver sozinho. Quando ele cair..."

Não é uma questão de se, meramente quando.

Chloe não gosta de pensar nas coisas desse jeito, mas ela não pode negar.

"Nós sabemos o quanto é perigoso. Estamos fazendo tudo que podemos para evitar. Clark não... aprova todos os nossos métodos, mas pelo menos a Terra estará em segurança."

Lex inclina a cabeça e coloca as mãos nos braços dela. Elas parecem gelo. "Nós quem?" A pergunta na voz dele é tão gentil, ela tem que piscar contra a súbita emoção que surge em seus olhos.

E ainda assim, ela não responde.

Ele franze a testa e corre uma mão pelo seu cabelo. "Descanse um pouco."

E ela descansa.

***

Oliver tinha decidido mudar constantemente o estoque de armas e embora ela fosse ficar mais confortável sabendo onde elas estavam o tempo todo, consegue apreciar a esperteza dele em fazer isso.

Não a impede de tentar invadir os computadores dele e descobrir onde as armas estão, no entanto.

(Ela imagina se ele honestamente pensou que ela faria isso.)

Ela finalmente estabelece um padrão para o método dele e vai interceptar a última mudança nas horas calmas da tarde. Um telefonema para sua secretária confirma que o Sr. Queen está numa reunião sem previsão pra terminar dentro das próximas horas.

Chloe vasculha o armário de armas dele na Watchtower e se veste com as roupas mais pretas que consegue encontrar.

Ela não é uma mestre do arqueirismo, mas certamente consegue se garantir. Especialmente agora que ele tinha lhe ensinado.

O tempo está nublado quando ela chega ao container de navio e se esgueira em silêncio. Embora a locação não seja uma que ela teria escolhido, é claramente remota e ela está agradecida que ele não esteja correndo riscos com isso.

Ela quebra a fechadura da porta com o pequeno cortador e demora mais do que esperava. Alguma parte sua estupidamente esperava por um código e um teclado numérico; ela entende todos muito bem e seria moleza entrar.

Quando as portas finalmente se abrem e ela vê Oliver lá dentro, sentado em cima de um caixote, ela fica sem fala.

"Que bom que você conseguiu, Sidekick. Eu fiquei um pouco preocupado que você tivesse se perdido. Acho que eu não imaginei que a velha fechadura fosse te atrasar, afinal."

Embora parte dela saiba que mordeu a isca feito um peixe, o resto dela não pode acreditar que isso esteja realmente acontecendo.

E ainda assim ela não sabe o que dizer.

Oliver se levanta e coloca as mãos nos bolsos. "Não confiou que eu fosse manter seu estoque em segurança, Chloe?" À falta de resposta, ele balança a cabeça. "Ou eu deveria dizer, você não confia em mim?"

É como se um fogo estivesse se espalhando em suas veias e a acusação dói, mesmo sabendo que ele está certo. É uma luta, mas finalmente ela consegue falar. "Onde estão as armas?"

Ele parece cauteloso e desapontado e derrotado - mas só por um segundo.

(Porque ele é um heroi, em primeiro lugar e acima de tudo. E eles não falham, não importa o quanto custe.)

"Em segurança."

Ele não oferece mais nada além disso e ela percebe que não pode pedir detalhes.

Já que não há mais nada a dizer, Oliver sai primeiro sem um outro olhar. Ela vagamente ouve o barulho do motor de um carro se afastando, espalhando cascalho e Deus sabe o que mais (como ela não viu o carro quando chegou?) antes que permita que um soluço escape de sua garganta ela se senta sobre o caixote.

(Ela não é uma heroína, então sua derrota é suficiente para engoli-la inteira.)

Ela não tem certeza quanto tempo fica sentada ali e tenta planejar um jeito de ir embora.

(Há uma voz sarcástica no fundo de sua cabeça que lhe diz para chamar Clark, mas as explicações necessárias pra isso não valem o esforço.)

O sol se põe e a temperatura cai drasticamente.

Ela não encontra nenhum problema em adormecer dessa vez.

***

"Estou desapontado com você."

Ela pisca, desorientada e percebe que está em um dos sofás do escritório de Lex.

Ele está parado na frente da lareira com uma taça de conhaque na mão. Estranho o bastante, a lareira não está acesa, mas por alguma razão ele não parece se importar.

"Desculpe por ter falhado?" Chloe pergunta sarcasticamente. "Não sabia que eu estava do seu lado."

"Chloe." Ele olha pra ela com um sorriso indulgente, mandando centenas de arrepios por sua espinha. "Claro que você está."

Precisa de algum esforço, mas ela consegue se levantar. "Olha, só porque eu usei seus planos para comissionar o armamento kandoriano não significa que estejamos do mesmo lado. Eu tenho bons motivos por trás das minhas ações, Lex. Nós dois sabemos disso."

Ele lhe mede com o olhar. "Quando ainda estávamos em Smallville, você era a única que tinha visão. Eu sempre soube que você chegaria longe."

Parece que elogios e cumprimentos do homem que o diabo em pessoa provavelmente tinha rejeitado não é algo que ela quer ou precisa.

"Me poupe."

"Eu me pergunto... Oliver compartilha de suas ambições, Srta. Sullivan?" Antes que ela pudesse responder, Lex continua. "Do jeito que você de repente compartilha a afeição dele pela cor verde?"
  
Ela olha pra si mesma e vê sua blusa jade e olha feio pra ele. Não eram essas as roupas que estava usando antes e os dois sabem disso.

"Você preferia vestir algo mais de acordo com o meu gosto, então?"

Ele não lhe dá a chance de responder e ela olha novamente e vê o suéter roxo escuro que ela tantas vezes usou enquanto estava na Mansão Luthor quando estavam tentando montar o caso contra Lionel. Náusea invadiu seu sistema enquanto ela pensava nas implicações dessa última descoberta e de repente ela odeia sua versão mais jovem por ter sido tão impressionável.

"Você não sabe nada sobre mim, Lex."

Queima o que ele tem a dizer sobre o relacionamento dela com Oliver (e o relacionamento dela com ele mesmo) e que isso se revele numa coisa tão simples como as roupas que ela está vestindo.

"Pelo contrário, Chloe. Eu sou o único que te conhece."

"Não aposte nisso."

Há aquele sorriso de novo que entra pela sua pele do pior jeito. "Eu não preciso. Foi você quem fez as coisas desse jeito."

O frio que ela sente permear a sala faz com que ela se sinta dentro de uma geladeira. Certamente ela não pode ser a única a sentir o frio.

Chloe olha para Lex, que lhe agracia com um sorriso. "Isso vem no pacote de ter um coração de pedra. Você se acostuma eventualmente."

Ela fica chocada, que ele fale tão francamente sobre os sentimentos dele (ou a falta?) e ela se afasta até seus joelhos atingirem o sofá.

"Eu não tenho coração de pedra, Lex." Ela consegue evitar que os dentes batam por tempo suficiente para conseguir falar claramente. Se isso é sobre as armas que ela comissionou, bem, era hora de esclarecer os fatos. "É só uma medida de segurança."

Ele acena e o sorriso de tubarão se espalha por seu rosto. "Eu sei. Eu costumava dizer a mesma coisa."

Lex não é indelicado em seu discurso (não desta vez, pelo menos), ele apenas fala honestamente.

De repente, Chloe vê como o caminho para a escuridão é pavimentado com apenas o suficiente de luz para iluminar as escolhas que são feitas até que seja muito tarde - e então você já foi longe demais pra voltar.

Parte dela (a parte dela que sente como se ela entendesse Lex; a parte dela que ela quer enterrar junto com Lex dentro de seu caixão) se sente mal por ele. Apesar de tudo que aconteceu, ela pode ver agora como ele tinha uma visão de proteção das pessoas que compartilhavam o planeta com ele. A outra parte dela sabe que a visão dele era distorcida e cega sobre as consequências de suas muitas ações falhas e é essa parte que lhe dá força para se defender.

"Eu não sou você."

Lex oferece seu conhaque a ela e não se incomoda em esconder sua satisfação com a teimosia dela. "Talvez ainda não", ele reconhece, erguendo a taça num brinde de deboche a ela. "Mas vai ser."

Desta vez a sala escurece mais rápido do que ela está acostumada e seu último pensamento é que parece que ele lhe deu um tapa no rosto.

***

Ela acorda arfando.

Tudo a atinge de uma vez (suas ações nos últimos meses, o jeito que estava completamente fechada pra todo mundo, mesmo para o time que reuniu, seu último encontro com Oliver - e a lista continua) e dói em seu peito como se alguém tivesse lhe apunhalado.

Ela olha pra baixo pra ter certeza que não tem nenhum ferimento (tão real é a dor) e é mais do que uma pequena surpresa ver os familiares lençois da cama de Oliver.

"Eu tive que mandar Bart atrás de você."

Chloe encontra o olhar de Oliver, que está recostado na moldura da porta com uma expressão ilegível no rosto. "Eu-"

"-você estava a ponto de ter um choque hipotérmico."

Ela pensa sobre o sonho estranho e o inabalável frio e treme, revivendo tudo. Oliver é muitas coisas mas não é grosseiro, então ele entra no quarto e passa um cobertor ao redor de seus ombros. Ele se senta na beira da cama e simplesmente fica olhando pra ela.

Chloe percebe que se ela quer respostas, tem que fazer o primeiro movimento. "O que aconteceu?" Sua voz quase some e ela percebe que isso é pior do que alguns sonhos ruins.

Oliver olha pela janela e demora um tempo até responder. "Depois que eu saí, você deve ter ficado dentro do container. Eu achei que você ia embora quando visse que estava vazio e não fiquei lá pra garantir que você voltasse em segurança. Algumas horas se passaram e eu chequei a Watchtower antes de ir patrulhar... mas você não respondeu." Ele engoliu e olhou pra baixo, para as mãos.

A esse ponto, ele não sabia mais o que dizer.

(Chloe é a Watchtower e a Watchtower é ela.

Chloe sempre responde. Não importa o que aconteça. Não importa o quanto ela esteja brava.

Se ela não responde, isso constitui uma emergência.)

"Eu liguei para o Impulse e ele te trouxe antes de eu pensar em ir a hospitais. Emil fez alguns testes e disse que você ficaria bem. Ele nos deu algumas instruções pra sua recuperação. Eu deveria ligar pra ele... Mas eu não sei o que dizer."

Há silêncio no quarto por alguns minutos enquanto a frase fica pairando.

Finalmente, Oliver olha pra ela e ela consegue ver o medo nos olhos dele. "Que diabos aconteceu, Chloe?"

Chloe abaixa a cabeça e se diz pra não chorar.

Não funciona.

Não é algo que se possa controlar. Seus dedos ainda estão frios e ela tem que lutar contra a inclinação aos tremores. Logicamente, ela sabe que está quente o suficiente ali como uma sauna. O resto dela simplesmente não consegue se aquecer.

"Eu não tenho conseguido dormir." Chloe declara como se estivesse envergonhada.

Oliver acena com a cabeça. "Eu sei." Ao olhar surpreso dela, ele continua. "A Watchtower é minha última parada na patrulha."

Parece de algum modo impossível, mas um pouco de calor a atravessa.

"E eu-" Ela sabe que isso não vai fazer nenhum sentido mas talvez se dizer a ele, ele vá entender. Ele vá ajudar. Porque ele é um heroi. E é isso que eles fazem. "Eu não quero me tornar o Lex."

Oliver nem ao menos se encolhe. "Ok", ele diz, desta vez a puxando para seus braços e ignora o fato dela estar literalmente tremendo. Ele não pede mais explicações e ela não contou sobre os sonhos, mas ela acha que nem isso vai chocá-lo quando ela decide contar. Ele simplesmente a abraça até ela começar a sentir que não está sozinha em sua luta para salvar as pessoas.

(Um dia ele vai dizer a ela que acha que ela está no time dos herois tanto quanto os outros. Ela salva todos eles. Herois salvam pessoas. É o que eles fazem.)

Então ele a abraça e diz, "Ok."

____________________________________________________________________

8 comentários:

  1. Meu Deus!!!! Que fic PERFEITA!!!!! Linda, triste, sombria, apaixonante...

    ResponderExcluir
  2. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!

    Quando eu penso que não pode existir nada mais perfeito no mundo das fics, vem essa de um dos momentos mais interessantes apesar de ter sido detestável, dela roubando Ollie, mas interessante por conta da motivação, dessa insistência em se isolar, se afastar e o papel do Ollie sem condenar, disposto a tentar, e o que é mais fascinante, como eles foram de conspiracy para escape, como fizeram as pazes, enfim...

    Deu pra perceber o quanto amei essa história, se deixar vou ficar aqui até amanhã falando, rs...

    Ana Beatriz

    ResponderExcluir
  3. LINDA, LINDA LINDA... Amei... perfeitamente escrita...

    Patrícia

    ResponderExcluir
  4. Encantadora... de uma profundidade... Minha nossa... Adorei!!

    GIL

    ResponderExcluir
  5. Encantadora... de uma profundidade... Minha nossa... Adorei!![2]

    Falou tudo, GIL...

    Edicleia

    ResponderExcluir
  6. Encantadora... de uma profundidade... Minha nossa... Adorei!![3]

    ResponderExcluir
  7. Nossa, a Chloe sem perceber se tornando o Lex... estou sem palavras, a presença dele foi impactante e a atitude do Ollie tb, fic maravilhosa...

    ResponderExcluir
  8. Nossa, que PERFEIÇÃO!!!!!! Acho que o episódio Conspiracy é o que rende as fics com sentimentos mais profundos... brilhante!!!!!

    ResponderExcluir

Google Analytics Alternative